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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

“Quando fazemos a prevenção pondo amparos numa ponte, já perdemos tempo”

A declaração é do psiquiatra Neury José Botega, um dos maiores especialistas em Suicidologia.

A UTFPR de Pato Branco trouxe o psiquiatra Neury Botega, membro fundador da Associação Brasileira de Estudos de Prevenção ao Suicídio.

“Transtornos comportamentais na comunidade acadêmica: ansiedade, insônia e depressão” foi o tema da palestra proferida pelo psiquiatra Neury José Botega, quinta-feira, na UTFPR de Pato Branco. Idemir Citadin, diretor da UTFPR de Pato Branco, comenta que a instituição conta com mais de 4.100 alunos, um motivo a mais para o assunto ser tratado de forma profissional.

“O que a gente vê na universidade não é muito diferente do que se vê nos jovens da população geral”, observa dr. Neury. Em sua palestra, ele abordou ansiedade, depressão e insônia, por serem fatores que geralmente levam ao esgotamento profissional. “Aí o aluno deixa de frequentar as aulas, repete de ano, entra em depressão, pode chegar à ideia do suicídio.”

Dr. Neury José Botega é professor-titular da Unicamp e membro fundador da Associação Brasileira de Estudos de Prevenção ao Suicídio, área que pesquisa há quase 30 anos. Embora suicídio não tenha sido o tema deste encontro, o JdeB procurou abordar o assunto, diante da realidade atual. O termo Suicidologia é ainda um pouco desconhecido, mas consiste no estudo do comportamento e causas suicidas, realizado por profissionais da Psiquiatria ou da Psicologia.

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Dr. Neury fez pós-doutorado na Universidade de Londres e é autor de diversas obras, como “Prática psiquiátrica no Hospital Geral” (Porto Alegre: Artmed, 2015) e “Crise suicida. Avaliação e manejo” (Porto Alegre: Artmed, 2015). Seu último livro é “A tristeza transforma, a depressão paralisa” (São Paulo: Benvirá, 2018).

Como foi a sua iniciação na suicidologia?
Dr. Neury José Botega: Eu sempre trabalhei num grande hospital universitário, que é o Hospital das Clínicas da Unicamp. Na nossa região, chegam muitos casos de tentativas de suicídio; por ser um hospital de alta complexidade, ele drena muitos casos de pessoas que tentaram se matar e não conseguiram, quer usando agrotóxicos, se ferindo com arma branca ou arma de fogo. Passou a ser uma prática minha conversar com as pessoas, que por pouco não morriam, e muitas delas diziam que não queriam morrer, que foi um momento de desespero. Então eu vi que eu tinha que trabalhar nessa área, fazer alguma coisa, já faz uns 30 anos que eu estou nesta estrada.

O senhor defende a prevenção. Como que deve ser?
A prevenção do suicídio é muito ampla. Na verdade, já começa no nascimento, porque temos que pensar na qualidade de vida, quando fazemos a prevenção do suicídio pondo amparos numa ponte, nós já perdemos muito tempo, já estamos no estágio final da prevenção. Então a prevenção do suicídio é desde que o indivíduo nasce, promovermos a saúde dele, a física e a mental. Agora é claro que, a partir da adolescência, da idade adulta, alguns transtornos mentais aumentam muito a incidência do suicídio, essa é uma outra via importante de prevenção, que é ter serviços que possam acolher e tratar adequadamente, quem tem transtornos mentais muito ligados ao suicídio, como a depressão, dependência de substâncias químicas, transtorno bipolar, esquizofrenia, entre outros exemplos. Divulgar adequadamente a questão do suicídio, sem espetacularizar a morte, sem romantizar a pessoa que se mata, não entrando em detalhes do método, não publicando fotos, porque às vezes pode haver um efeito de contágio em pessoas menos vulneráveis. E como eu estava falando, em prédios públicos e pontes, às vezes dificultar o acesso a armas, a agrotóxicos, e mesmo proteger instalações públicas, estão entre as estratégicas. Por último, mas não menos importante, atender adequadamente quem tenta o suicídio, porque o grupo da população que tenta o suicídio pode tentar novamente no futuro.

São várias vias nas quais a gente pode diminuir uma quantidade grande de mortes. Nós não vamos diminuir todas, não vou dizer que podemos evitar todos os suicídios, nenhuma sociedade conseguiu isso em nenhum momento da história, mas uma parcela de mortes nós podemos evitar.

Nesses 30 anos de estudo, quais são as suas conclusões?
Sinto que eu tenho uma boa estrada publicando artigos, livros, dando muitas palestras e cursos. A principal conclusão que eu chego é que a gente tem que continuar neste caminho, porque os números aumentam cada vez mais, jovens estão se matando, então nós precisamos conversar sobre o assunto, não tratá-lo mais como um tabu, como se fazia antigamente.

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