Bulimia, anorexia e compulsão alimentar têm tratamento.
O descontentamento com a própria imagem é um dos fatores capazes de desencadear distúrbios alimentares. Érico Péres Oliveira, psicólogo e psicanalista, membro da Escola de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre (EEP), faz alguns alertas. “É preciso entender estes mecanismos como disparadores de algo que já estava presente. Foi apenas uma linguagem que algo mais profundo encontrou para se apresentar como sintoma.” Confira a entrevista.
JdeB – O que são distúrbios alimentares?
Érico Péres Oliveira: A maneira como nos alimentamos é uma forma de comunicação. Ou seja, é uma espécie de linguagem. Desta forma, quando o sintoma se manifesta por meio da alimentação, há algo nas entrelinhas que pode ser escutado. Pode acontecer pela diminuição da ingestão, causando uma magreza excessiva, chamada de anorexia.
Ou por uma alimentação normal ou exagerada, mas acompanhada da indução de vômitos no término da refeição, chamada de bulimia. Quando a ansiedade se manifesta no aumento ou descontrole da demanda, é chamado de compulsão alimentar. Logo, o distúrbio alimentar é a representação de algo mais profundo que precisa ser elucidado.
Quais as causas?
A causa sempre precisa ser verificada caso a caso. É sempre muito particular. Aquilo que pode desencadear um distúrbio alimentar em uma pessoa pode ser muito diferente daquilo que acontece com outro indivíduo. Pode estar relacionado à forma que a alimentação foi introduzida na vida do bebê e hábitos alimentares dos pais.
Outro fator pode ser a maneira que os pais lidam com questões de imagem, ou seja, depositando sobre os filhos uma expectativa acerca de uma magreza excessiva. Também pode estar associado a quadros anteriores de depressão ou ansiedade. Identificando o sintoma, a pessoa procura ajuda e, neste processo, conseguirá identificar a causa. É por este caminho que a atenuação dos sintomas acontece.
Como podem ser tratados?
O tratamento dos distúrbios alimentares acontece de forma multidisciplinar e pode envolver profissionais da Psicanálise ou da Psicologia. Em casos mais severos, faz-se necessário o uso de medicação, que acontece com o acompanhamento psiquiátrico. Com o objetivo de aprender melhor sobre a relação com o alimento e promover uma reeducação alimentar, requer-se o tratamento com nutricionista. A evolução acontece por meio da fala. Transforma-se a linguagem alimentar em uma linguagem verbal.
Atingem uma faixa etária mais específica?
A clínica mostra que a frequência maior acontece na adolescência e em jovens adultos. Mas pode acontecer em qualquer idade, até mesmo na infância.
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Por que muitas pessoas estão descontentes com a própria imagem?
A cultura que direciona para uma idealização de imagem não é de agora. Sempre houve o exemplo de beleza padrão que cativava e incentivava as pessoas a se fixarem num ideal. O que acontece agora é que a tecnologia piorou algo que já era ruim.
Os filtros presentes nas redes sociais sugerem até mesmo uma nova face modificada para você. Não é à toa que o número de cirurgias plásticas e procedimentos estéticos e faciais cresceu severamente. Associado a isto, a necessidade coletiva de sempre se apresentar feliz nas redes sociais dispara a conhecida sensação de que a grama do vizinho é mais verde.
Um comportamento cíclico que causa intenso mal-estar. Porém, é preciso sempre entender estes mecanismos como disparadores de algo que já estava presente. Foi apenas uma linguagem que algo mais profundo encontrou para se apresentar como sintoma.
Quando os excessos acontecem, o sofrimento vem junto. É de extrema importância buscar ajuda para traduzir o que realmente precisa ser falado.
