Por Niomar Pereira – Claudemir José de Souza, diretor da Universidade Paranaense (Unipar) e membro da diretoria da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), destacou ao JdeB a necessidade de uma profunda reflexão sobre temas relacionados à educação superior no Brasil. Entre os pontos levantados, ele ressalta o descompasso entre a grande oferta de cursos e a redução crescente no número de estudantes específicos em integração no ensino superior.
Segundo ele, o Ministério da Educação (MEC) prepara um novo marco regulatório para o ensino a distância, que incluirá novos referenciais de qualidade, com lançamento previsto para o final do ano. E esses “novos referenciais” do MEC provavelmente reduzirão a oferta de cursos EAD.
Outra questão levantada foi a baixa formação de professores. Claudemir relatou que a maior parte dos alunos de cursos de Pedagogia está matriculada em programas a distância, mas com as novas regulamentações, as exigências de atividades presenciais podem afetar a formação desses futuros professores. “A gente corre o risco de ter um apagão generalizado, não de professores, porque de professores a gente já está caminhando para isso, mas também um apagão de alunos que se tornarão futuros professores, porque você pega os cursos a distância, eles estão em regiões, em cidades, que sequer têm uma instituição de ensino presencial.” Conforme Claudemir, aquele polo de EAD que atendia uma determinada região, pode ser que não atenda mais. “Como que vai suprir essa carência de professores se não iremos mais formar professores na quantidade que a gente precisa”, questiona.

Evasão maior no EAD
Em relação à evasão nos cursos a distância, o diretor explicou que a falta de convivência e o desafio de manter a disciplina aumentam a taxa de abandono. “A educação presencial tem outros atrativos, como o convívio social e a vida universitária, que não existem no EAD. Mesmo que existam tecnologias para deixar mais próximos os alunos, com aulas ao vivo, ainda não há essa questão de afetividade. Muitos alunos entram no curso a distância achando que é mais fácil, mas logo desistem por não conseguirem se organizar, porque em algumas situações é até mais difícil. Porque tem que ter disciplina, tem que se organizar nos seus horários, cumprir rigorosamente as atividades que são apresentadas.” Ou seja, do jeito que o aluno entra mais rápido, ele abandona mais rápido também o curso.
EAD: dos rincões aos grandes centros
Claudemir observou que, apesar da maior evasão, há metodologias que podem melhorar a retenção de alunos em cursos EAD. Na avaliação dele, os cursos EAD têm um papel muito importante e tudo depende da metodologia que a instituição adota. “A educação a distância atende tanto aos rincões do país, que não possuem uma instituição presencial por perto, pois não é viável como negócio, quanto aos grandes centros. Dependendo de onde você mora, o tempo necessário para se deslocar até uma instituição de ensino, somado ao deslocamento do trabalho, pode inviabilizar a possibilidade de frequentar um curso presencial. O ensino a distância resolve esse problema para milhares de estudantes, que optam por essa modalidade devido às questões de mobilidade urbana.”
Claudemir ressaltou as dificuldades enfrentadas pelas pequenas instituições de ensino, que não oferecem as mesmas condições de financiamento ou descontos que os grandes grupos educacionais. O docente alertou para o risco de muitas dessas instituições não conseguirem sobreviver. “Se o governo adotar um marco regulatório específico e inviabilizar a continuidade dos cursos EAD, isso pode afetar a oferta de ensino superior, especialmente nas pequenas cidades.”
Ciclo perverso
Por fim, o diretor da Anup comentou o cenário educacional geral no Brasil, observando que a falta de preparação básica nas áreas de matemática e lógica no ensino fundamental e médio prejudica a formação de alunos para cursos superiores, especialmente em áreas técnicas como TI e engenharia. “O mercado é carente de professores, é carente de profissionais de diversas áreas, como, por exemplo, na área de tecnologia. Como esses cursos (de TI) são intensivos em exatas, podemos fazer uma relação com o Pisa, exame que avalia essas áreas. Nesse contexto, o Brasil vai de mal a pior, figurando entre as piores colocações dos países avaliados pelo Pisa.”
Para Claudemir, a solução é investir no ensino básico, como fazem países como Japão e Coreia do Sul, onde há investimento contínuo na formação de professores para as séries iniciais. “Se a criança é bem formada desde o ensino fundamental, o céu é o limite para ela”, concluiu.

Pedreiro ganhando mais que engenheiro: formação superior nem sempre garante bom salário
JdeB – A lei da oferta e da procura exerce grande influência na escolha de uma carreira profissional. Afinal, quem gostaria de cursar uma graduação por quatro ou cinco anos para, depois de formado, descobrir que o mercado está saturado e os salários, muito baixos? O problema é que, com a velocidade das mudanças no mercado, uma carreira que parece promissora hoje pode não ter a mesma relevância daqui quatro anos.
Na construção civil, um dos setores mais aquecidos nos últimos anos no país, aqueles que buscam formação superior muitas vezes ganham menos dos que se especializaram em trabalhos manuais e braçais. Segundo Jocemar Brandão, engenheiro civil e empreendedor da área, há uma grande carência de mão de obra qualificada e comprometida para funções como pedreiros, eletricistas, encanadores, azulejistas, entre outros. “A geração mais nova não quer esse tipo de trabalho. Eles buscam empregos com mais conforto, no ar-condicionado, evitam serviços pesados e expostos ao sol.”
Segundo ele, o problema é que muitos trabalhadores nos canteiros de obra já estão na faixa dos 40/50 anos ou mais, o que indica um possível apagão de mão de obra no futuro, quando essa geração se aposentar. “O volume de obras e a demanda por imóveis provavelmente permanecerão estáveis, mas com menos profissionais disponíveis para atender à necessidade.”
No setor da construção civil, profissionais qualificados costumam cobrar caro por serviços braçais enquanto quem fez faculdade está enfrentando mais dificuldade no mercado. “Porque há muitos engenheiros para poucas obras, ou seja, o projeto de uma casa pode ser concluído em uma semana, mas a construção dela leva até seis meses, exigindo diversos profissionais e dando emprego por mais tempo para a equipe de execução.”
Por outro lado, empreiteiros —pedreiros, azulejistas e eletricistas — que optam por atuar como autônomos, sem vínculo formal em carteira de trabalho, obtêm rendimentos muitas vezes entre R$ 8 mil e R$ 12 mil mensais. “São profissionais experientes, que sabem o que fazem e não se prendem a carteira assinada, porque sabem que podem ganhar mais trabalhando por conta.”
Já entre os engenheiros, há um pouco mais de dificuldade. “Encontrar engenheiros ganhando R$ 10 mil por mês é difícil, a não ser aqueles que se tornaram empresários. A maioria está na faixa de R$ 3 mil. Para ganhar entre R$ 4 mil e R$ 5 mil, o engenheiro já precisa ser muito bom.”