Alguém lembra que no Mundial de Clubes de Futsal de 1997, em Porto Alegre (RS), o Barcelona fez gol contra pra evitar de pegar o Internacional na semifinal? Sim, isso aconteceu! É uma mancha na história da modalidade.
O poderoso Barcelona se borrando pra enfrentar a equipe de Manoel Tobias, que foi campeã daquela edição. Eu gosto de citar esse episódio para evidenciar o quanto o futsal brasileiro era superior aos demais países naquela época.
Muitos consideram o futsal um esporte genuinamente brasileiro, mas isso não é verdade, pois na Europa se jogava também na década de 1930 algo parecido, mas era seis pra cada lado e a bola batia na parede e podia continuar jogando que não era lateral, era um misto de futebol com hóquei. Depois, em 1989, quando a Fifa assumiu e realizou a primeira Copa do Mundo da modalidade, houve a padronização das regras internacionalmente.
Mas na década de 1980 os espanhóis vieram ao Brasil para descobrir por que aqui se formavam tantos atletas de futebol. Aí eles descobriram o futsal! O mundo descobriu que o improviso em curto espaço, a habilidade, o toque de primeira, a magia, vinha de outra modalidade, que sempre foi muito praticada por aqui. Então eles levaram para a Europa a lição de que precisavam investir no futsal para formar mais atletas para o futebol.
Tanto que, se você perceber, um simples trabalho de campo reduzido no futebol, com toques de primeira, nada mais é que um futsal jogado na grama. Ou seja, são lições que o futebol tirou do futsal e adaptou para evoluir seus jogadores e suas equipes.
Vamos aos exemplos: Ronaldo Fenômeno começou no futsal, em 1991, no Social Ramos Clube; Ronaldinho Gaúcho aprimorou sua habilidade quando começou no futsal do Asprocergs, do Rio Grande do Sul; Lionel Messi começou no time de futsal do Newell´s Old Boys, da Argentina; Neymar era conhecido como “Juninho” em seus tempos de destaque na Liga Regional de Futsal de Santos. Cristiano Ronaldo também começou no futsal e já disse publicamente o quanto isso influenciou na sua formação como jogador. Enfim, eu poderia escrever um livro só citando exemplos como esses. Não é novidade pra ninguém.
O futsal forma tanto para o futebol que grandes clubes “de camisa” têm equipes nas categorias menores, mas não continuam na categoria adulto. O Fluminense venceu o Sport na final da Taça Brasil Sub-8 de 2023, que aconteceu em Campo Grande (MS), em 12 de agosto. Vai conferir se o Fluminense joga o Campeonato Carioca de Futsal Adulto. Não joga. O Sport até joga o Pernambucano adulto, mas só pra cumprir tabela, seu último título estadual foi em 2001. Ou seja, os clubes só usam o futsal pra formar pro futebol e não retribuem nada para a modalidade.
Se o futsal faz tanto pelo futebol, por que não há reciprocidade? Fiz essa pergunta ao presidente da Federação Paranaense de Futsal, Anderson Andrade, e ele me respondeu com outra pergunta: “o que estamos fazendo para reivindicar esse investimento do futebol no futsal?” Realmente ele tem razão. Somos acostumados a assistir e ficar parados. Mas é hora de agir.
O Falcão já parou de jogar há quatro anos, já fez muito pela nossa modalidade dentro das quadras, atraindo audiência e investimento. Mas é preciso fortalecer o futsal coletivamente, pois não vai surgir um novo Falcão, não podemos depender de um atleta.
Meu sonho é que a CBF faça com o futsal o que fez com o futebol feminino. Baixar um decreto da seguinte forma: “a partir de agora, todos os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol são obrigados a ter um time de futsal adulto disputando os campeonatos estaduais”. É um sonho, eu sei. Isso dificilmente vai acontecer. Mas a história seria diferente.