
Cezar Maia, 41 anos, está há 15 na profissão de motorista de caminhão. Natural de Lebon Régis (SC), morou até por volta dos 25 anos em Curitiba e trabalhava de garçom. A renda mensal era boa na capital, mas a esposa Sueli queria voltar para o convívio dos familiares que residiam em Francisco Beltrão. Cezar, que desde os 16 anos trabalhava de garçom, aceitou o desafio de morar numa cidade do interior.
A chegar em Beltrão foi em busca de vagas como garçom. Depois de um tempo atuando na profissão, percebeu que aqui não conseguiria a mesma renda mensal que conseguia em Curitiba. Surgiu a oportunidade de trabalhar como motorista de caminhão, que oferecia um salário melhor, apesar do esforço maior. Cezar encarou o desafio de trabalhar na boleia e não desistiu. Ele tinha a carteira de motorista da categoria C, que permitia a condução de caminhões.
Do truck para a carreta
Começou como motorista de caminhão truck, Mercedes Benz, do Atacadão Industrial, em 1996, passou pela Transleve/Mercúrio, onde fazia a linha Beltrão-Curitiba-Beltrão, e há quase cinco anos é funcionário da Cerealista Pinzon, de Dois Vizinhos. Ele dirige um cavalinho Scania 380 que puxa cargas frigorificadas da BRF de Francisco Beltrão para os portos de Paranaguá (PR) e Itajaí (SC). Para dirigir as carretas, Cezar teve de fazer os exames do Detran e conseguiu a CNH na categoria E.
Quando começou a dirigir caminhão, a expectativa era conhecer outros lugares do país. E Cezar diz que “o nosso trabalho (de motorista) é um vício, já pensei em desistir, várias vezes, mas a necessidade é maior”. E emenda: “Eu gosto do que faço”.
Cezar afirma, também, que gosta de morar em Beltrão e que não sai mais daqui. A família reside no bairro Sadia. A esposa Sueli cuida da casa e o casal tem três filhas: Poliana, Gabriela e Izabel. “Eu experimentei mudar de ares, vir pra uma cidade do interior e hoje não me vejo em outra cidade que não Beltrão.”
Os perigos da estrada
Nos últimos tempos, no entanto, os motoristas vêm enfrentando vários problemas. Dois deles são a precariedade das estradas e a falta de estrutura para acolher os condutores de caminhões. “Acho que a gente deveria ter um pouco mais de empenho por parte do governo, de segurança, de melhores fretes”, reclama.
Outro problema são as precárias condições das estradas, uma delas o trecho entre Pato Branco e Palmas (PRC 280). Cezar conta que nos dias de chuva forte “não tinha condições de nós andar, é coisa complicada”. A viagem de Beltrão a Paranaguá, que levava 12 horas, agora está demorando cerca de duas horas a mais. Os motoristas têm de andar devagar em alguns pontos para evitar quebras de molas e peças e furos ou estouro de pneus.
Lei dos Caminhoneiros
Cezar tem algumas objeções à Lei dos Caminhoneiros, em vigor desde 2013 e que teve alterações em 2014. “A Lei dos Caminhoneiros, as expectativas seriam ótimas, mas desde que funcionasse. Por enquanto é só uma teoria, na prática vai ser muito diferente, depende das transportadoras, dos patrões.”
Um dos problemas que os motoristas de cargas frigorificadas enfrentam, atualmente, é a restrição para ficar em alguns postos. As câmara frias têm de manter os motores ligados durante a noite toda para conservar os produtos congelados. “Há certos postos em São Paulo que, se você chega, o pessoal já vem perguntar se vai manter ligado o motor da câmara fria, e se disser que sim, eles não deixam ficar. Essa é a parte complicada”, relata.
Outra implicação da Lei dos Caminhoneiros é que houve uma redução no número de viagens feitas pelos motoristas, durante a semana. Cezar fazia três viagens por semana e agora está fazendo duas. “O salário é menor, as coisas encareceram… Pro patrão também diminui as viagens.”
E os preços das refeições nos restaurantes, nas estradas, também aumentaram. Hoje, Cezar come em restaurantes e faz algumas refeições próprias. “Tem uma caixa, tem geladeira, se não chover (a gente faz), se chover não tem como, mas é um dinheirinho que você economiza.”
No dia desta entrevista, 15 de julho, Cezar estava se preparando para mais uma viagem. Enquanto o caminhão passava por uma revisão, ele conversou com o JdeB.