Filhos mudam o nome do espaço para homenagear a mãe Maria de Fátima

Paixão pela psicanálise vem de famíia.
Há alguns anos, a psicanálise não era um ramo muito conhecido em Francisco Beltrão. Contudo, graças ao trabalho e dedicação da psicóloga Maria de Fátima, o tratamento se tornou referência. Após seu falecimento – uma perda não apenas à família, mas também a amigos, colegas e sociedade beltronense – os filhos decidiram manter o projeto e ainda dar seu nome à clínica. Hoje, com todo merecimento, a clínica se chama “Clínica Psicanalítica Maria de Fátima”. Confira abaixo a entrevista dos filhos e profissionais Érico e Bruno Oliveira.
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JdeB- O novo nome da clínica é uma clara homenagem a mãe de vocês, psicóloga que iniciou junto esse projeto, como surgiu essa ideia?
Érico: Bem, a ideia da troca do nome foi do Bruno, meu irmão. Pensou-se nisso, pois o sonho de trazer a psicanálise para a cidade e constituir essa clínica começou com ela. Desde sua vinda para Francisco Beltrão, ela sempre falou em inaugurar uma clínica de atendimento psicanalítico. Sua dedicação com os pacientes era um exemplo para nós. Seu falecimento foi uma perda irreparável e que nos pegou totalmente de surpresa. Ainda estamos em um duro processo de adaptação. Enfim, continuaremos o seu trabalho e nada mais justo do que homenageá-la mantendo seu nome na clínica. Quem a conheceu sabe a grande profissional que foi. Então, decidimos que daqui pra frente o espaço se chamará Clínica Psicanalítica Maria de Fátima.
JdeB- A Clínica está totalizando cinco anos de trabalho. Como está sendo esse percurso?
Bruno: Eu passei a integrar a clínica no ano passado, mas sempre acompanhei todo o processo. Inicialmente foi um pouco arriscado. Como há cinco anos ainda não havia um trabalho concreto com a psicanálise no município, sempre se pensou no risco de uma adaptação não acontecer. Porém, na época minha mãe e o Érico decidiram encarar o projeto. Aos poucos o trabalho foi acontecendo e se concretizando. Hoje, quem está com algum sofrimento psíquico pode optar por várias linhas da psicologia podendo escolher, também, pela psicanálise.
JdeB- E qual a principal linha de vocês? Com quais transtornos a clínica costuma atender?
Érico: Não trabalhamos exatamente com transtornos específicos. Nossa escuta está direcionada ao sofrimento, independente de como ele se manifesta. Quando aparecem sintomas como os de uma depressão ou de uma síndrome do pânico, por exemplo, são indicativos de que algo mais profundo precisa vir à tona. A análise não se atém somente aos sintomas, mas sim, na causa deles. Trata-se de poder compreender porque uma dor se fez necessária. É poder lançar uma série de questionamentos possibilitando que o indivíduo possa entender o que ele realmente quer. Ou seja, aprender sobre o próprio desejo.
JdeB- E vocês atendem crianças também?
Bruno: Sim, crianças e adolescentes. Sempre deixei meus estudos mais direcionados à infância. O início de minha prática aconteceu justamente no CAPSi de Novo Hamburgo, no RS. Espaço direcionado ao tratamento de crianças e adolescentes. Então, a partir de minha entrada na clínica, assumi esses atendimentos. Trabalha-se de forma lúdica para entender porque um sofrimento está presente na criança. Utiliza-se vários dispositivos como recursos audiovisuais, videogames, computador, música e diversos brinquedos. Tudo isso apostando numa boa vinculação, passo primordial para que essa forma de atendimento funcione.
JdeB- Hoje as pessoas estão mais atentas à importância da terapia? Ou ainda há muita resistência?
Érico: Poderíamos dizer que houve uma popularização do atendimento psicológico e analítico. As pessoas estão mais cientes da sua necessidade e buscam ajuda com mais facilidade. Todavia, ainda existe resistência. Muitas pessoas, mesmo sabendo da necessidade, ainda optam por caminhos supostamente mais fáceis, rápidos ou mágicos. Trata-se da dificuldade de encarar o próprio sintoma. Enfim, estamos em um momento de transição onde as pessoas já possuem um bom conhecimento sobre como funciona e seus benefícios mas, em contrapartida, ainda há muito preconceito.