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segunda-feira, 02 de junho de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

“Entreguei a madeira para o início das obras dos metrôs do Rio e São Paulo”

 

Atualmente, Fritz é empresário e possui uma frota em sociedade 
com o genro, mas ainda faz algumas viagens quando necessário. 

O caminhoneiro Gotfrid Carlos Pachttmann, o “Fritz”, como é conhecido por aí, despertou a paixão por caminhões quando ainda era criança e morava com a família na comunidade Tatetos, no interior de Marmeleiro. “Eu sempre gostei de caminhão, desde guri. Ficava olhando os caminhões subindo a estrada de terra, eu ia lá só pra ver os caminhões subindo, carregados de tora. Na época era tirada muita madeira por aqui, mas a estrada era tudo chão, não existia asfalto”, recorda-se.

Naquela época, Fritz já havia decidido que, quando crescesse, trabalharia como caminhoneiro. E assim fez. Começou como ajudante de motorista da distribuidora da Brahma, em Francisco Beltrão, que atendia boa parte da região. Tinha ainda 15 anos e já fazia toda a região do Rio Iguaçu pra cá. Com 18 anos, fez a carteira de motorista e foi trabalhar em uma madeireira da região, que fechou pouco tempo depois, forçando-o a se mudar para São Paulo, onde trabalhou por dez anos no transporte da Madeireira Sandrini Ltda, de dois italianos. 

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Muito barro e poeira
Gotfrid é natural de Cunha Porã (SC), filho de Karl e Olinda. A família chegou à região de Francisco Beltrão no início da década de 60. Casado, tem três filhos: Rubens, que é engenheiro elétrico, Ariane e Mariele, que são farmacêuticas. Na família, Fritz é o único caminhoneiro e, atualmente, com 60 anos de idade, possui uma frota de oito caminhões em sociedade com o genro Denilso e a filha Ariane. “Mas continuo viajando, caso seja necessário substituir algum motorista.”

O caminhoneiro lembra os desafios que enfrentava no início da atividade, ainda quando era apenas ajudante de motorista. “Tinha bastante poeira e, nos dias de chuva, muito barro. Na época a gente acorrentava os pneus dos caminhões, porque quase não tinha asfalto por aí. Dia de chuva era complicado, tinha as festas no interior e a gente ia levar a bebida, era bastante sofrido, tinha que acorrentar os caminhões, mas a gente conseguia. Eu acho até que as festas eram mais animadas que as de hoje, porque a gente levava a bebida e na segunda-feira ia buscar e não sobrava nada, só voltavam as garrafas vazias”, revela.

Na época, havia dois ou três caminhões que faziam as entregas na região, além de outros que buscavam as cargas de bebida em Passo Fundo. As entregas eram feitas com caminhões Ford 58, e depois adotaram os Chevrolet, até chegarem aos Mercedes 1111 e 1113. “Quando faltava motorista, a gente ia pra Passo Fundo.

E era bom, na Brahma de Passo Fundo, a gente chegava lá, levava uns salames e eles davam a cerveja crua pra gente tomar. Não tem nada comparado com essa cerveja, era muito bom”, recorda-se o caminhoneiro.

Em São Paulo
Nos idos de 1975, quando Fritz decidiu ir para São Paulo, um de seus irmãos já estava lá. “Ele foi trabalhar com o Ângelo Camilotti, e daí ele passou pra esta outra empresa e, na verdade, chamou mais dois irmãos pra trabalhar com ele. Nós estávamos em três irmãos e trabalhamos dez anos com eles. Caminhoneiro era só eu, os outros, um era gerente da empresa e o outro ajudante. Nós fazíamos Rio de Janeiro, Minas Gerais e dentro da região de São Paulo. O metrô do Rio e o metrô de São Paulo, a gente que começou a entrega da madeira pra obra”, afirma. 

O horário de trabalho era indeterminado, chegavam a trabalhar até 15 horas por dia. Fritz lembra que os caminhões eram Mercedes, depois chegaram alguns Chevrolet Detroit trucados e, por fim, os ‘Jacarés’, os Scania 111 e 141, e os Mercedes 1513. “Nós estávamos nuns oito caminhões de entrega e mais uns seis que puxavam pra São Paulo, e mais os freteiros, eram muitos, era muita carga de madeira. O trânsito era complicado porque não tinha tantas opções, mas era melhor, você se organizava, saía mais cedo, já tinha as marginais”, comenta.

Após dez anos de trabalho em São Paulo, Fritz decidiu voltar para o Sudoeste. “Eu vim embora porque eu já tinha dois filhos, a Ariane e o Rubens, e porque a gente é daqui. Eu voltei em 1984, daí continuei trabalhando de caminhoneiro autônomo, fazendo entregas pra Fremapar, pro Fregonese, até pouco tempo. Fiquei uns 20 anos fazendo entregas em São Paulo, Rio e Minas, no transporte de portas e compensados. Também trabalhava puxando grãos para as unidades da Ovetril em Dois Vizinhos e Francisco Beltrão.”

Saudade daquela época
Apesar das dificuldades e dos desafios, Fritz garante que aquela época era melhor. “Era bom, existia mais amizade, você nunca deixava ninguém na estrada, existia mais respeito, tanto um motorista pelo outro, não existia tanto roubo. O problema hoje tá no roubo. Na época era estrada de chão, mas era até melhor do que hoje. Hoje virou só em buraco, não tem mais estrada que presta. Dão aquela tapeação, mas tem buraco de perder os eixos. Tem que ir devagar, uma viagem que, se você quiser chegar em casa sem maiores prejuízos, tem que ir mais devagar”, reclama.

Cara a cara com criminosos
Durante seus 40 anos de profissão, Fritz passou por três episódios em que ficou cara a cara com criminosos. Em 1992, foi assaltado em Mauá da Serra, próximo de Maringá, quando os bandidos levaram seu caminhão. “Eu tinha um 1513, fiquei amarrado e algemado no meio do mato. O caminhão e a carga de amido de milho foram embora, nunca mais encontrei. A carga não valia nada, eles queriam mesmo era o caminhão. Daí o pai do Celso Fregonese, seu Dorival, me vendeu um caminhão pra pagar em dois anos, e continuei trabalhando, prestando serviço pra eles, me deram uma força pra recomeçar”, reconhece. 
Em outra ocasião, em São Paulo, enquanto fazia um lanche após uma entrega, enfrentou outra situação. “Eu estava com um Scania, e, enquanto fazia um lanche, o cara meteu o revólver e pediu a minha carteira, eu falei que não tinha, daí o cara falou: ‘Você é louco?’ E eu disse: ‘Não sou louco e vou te mostrar que não sou louco’. Quando eu abri a porta e ia pra cima do cara, ele foi embora e não levou nada.”

E outra vez, enquanto trafegava pela Dutra, em São Paulo, carregado de compensado, indo rumo a Vitória (ES), mais uma vez Fritz passou por uma tentativa de assalto. “Um cara começou a fazer sinal, que as cantoneiras estavam caindo debaixo do caminhão. Quando eu parei pra ver as cantoneiras, eu vi que não estavam caindo, na verdade era golpe. Aí eu falei pra mim mesmo: ‘Mas tu é uma anta. Como que não percebeu?’ Daí o cara disse: ‘Vamos ver a tua carga e vamos levar, que eu sei que é cobre’. Daí falei que era compensado e os caras pensaram um pouco melhor, estavam armados, mas não apontaram pra mim. E eu me desvencilhei dos caras e disse que ia embora, e já fui dando ré no caminhão. Daí os caras disseram: ‘Deixa ir embora que esse cara é meio maluco’. A gente sempre tira alguma lição disso, embora medo a gente tenha, mas tem horas que tu fica de saco cheio”, desabafa. 

Motorista e empresário
O primeiro caminhão que Fritz adquiriu foi um Mercedes 1313. “Comprei em São Paulo, quando ainda estava na empresa, mas deu bastante problema e depois eu troquei ele aqui por um 1513. Tive bastante dificuldade, me roubaram dois caminhões na estrada, sofri bastante, mas estamos aí”, afirma, com muito otimismo.

Atualmente, Fritz e o genro Denilso Baldo trabalham com o transporte de containeres, pela BRF, para a Coptrans, com caminhões Volvo FH. “A gente viaja quando falta motorista. Ajudamos a montar aqui em Beltrão a Coptrans e hoje temos 100 caminhões puxando na cooperativa. A gente tá agregado a eles, fazendo Beltrão, Dois Vizinhos, para os portos de Itapoá, Itajaí, Navegantes e Paranaguá, por isso que estamos mais em casa.”
Para o caminhoneiro, o setor atualmente está bastante complicado. “Isso pelo fato de ter bastante caminhão, tem pessoas que não mexem com caminhão, mas acham que é um ramo que dá muito dinheiro. É sofrido, se não administrar direito, a mecânica, viagens, pneus, motorista, é um ramo complicado. Os caras, quando entram, acham que é um mar de rosas, mas não é fácil, muito acidente, muito carro nas rodovias, os impostos tão matando e o pedágio tem uns trechos que é mais caro que o diesel.”

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