A região teve um aumento dos depósitos realizados na caderneta de poupança nos últimos 12 meses.
A caderneta de poupança, que sempre foi um dos investimentos prediletos do brasileiro, registra uma fuga histórica de recursos em 2015. A diferença entre depósitos e saques durante o ano apresenta um saldo negativo de R$ 29 bilhões, volume maior que o somatório de toda a entrada de dinheiro em 2014, que foi de R$ 24,03 bilhões.
A retirada em massa de dinheiro está ocorrendo, na opinião de especialistas, em virtude do baixo rendimento. Só em abril, conforme dados do Banco Central, houve a saída de R$ 5,85 bilhões. Foi o quarto mês seguido em que as retiradas superaram os depósitos na caderneta. Mas este movimento, pelo menos até o mês de fevereiro, não se repetiu na região Sudoeste do Paraná, onde os poupadores até aumentaram a quantidade de depósitos.
Em fevereiro de 2014, somados os depósitos dos municípios da região que possuem agências bancárias, havia um saldo de R$ 1.391.211.624,00 na caderneta de poupança. Um ano depois (fevereiro 2015), o volume de dinheiro aumentou para R$ 1.451.612.699,00 (4,34%). Os dados do BC consideram apenas os recursos em bancos, não estão contabilizados no levantamento os depósitos das cooperativas de crédito, que também são expressivos na região.
A maior poupança é de Pato Branco com R$ 360,8 milhões, seguido por Francisco Beltrão R$ 335,1 milhão, Dois Vizinhos R$ 121,2 milhões e Palmas R$ 88 milhões. A população do Paraná tem R$ 35,7 bilhões guardados em poupança, dos quais 4,55% são do Sudoeste.
A Caixa Econômica Federal detém sozinha mais de 50% dos recursos em poupança da região, são R$ 739.006.974,00. O gerente-geral da agência de Francisco Beltrão, Laurici Antonio de Campos, disse que a região preserva os recursos financeiros devido às características da população, que tem uma classe emergente e uma classe média consolidada e uma economia baseada na agricultura que está fortalecida.
“Até chegamos a registrar um movimento mais acentuado de retirada de dinheiro da poupança no começo do ano, mas agora já está voltando à normalidade.” De acordo com ele, o poupador confia na poupança por causa da disponibilidade (podendo sacar a qualquer hora) e a segurança. “Temos um público fiel da poupança.” No fim do ano passado, o estoque de recursos na poupança totalizava R$ 662,7 bilhões. No fim do mês passado, já estava em R$ 648 bilhões.
Deixou de ser vantajoso
O problema é que guardar dinheiro na poupança deixou de ser vantajoso já faz algum tempo. No acumulado de 12 meses, o índice inflacionário foi para 8,22%. Já o rendimento das cadernetas, quando a taxa de juros está acima de 8,5%, está limitado 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR). No mesmo período a aplicação rendeu 6,17%.
Em uma conta simples é possível verificar a distorção. Se a pessoa queria comprar um bem que custava R$ 1.000,00 há um ano, mas revolveu guardar o dinheiro para render, hoje ela teria R$ 1.067,00, mas o bem já estaria custando R$ 1.082,20. Há o fato ainda de que a poupança perdeu atratividade frente a outros investimentos, que sobem junto com a Selic.
O economista Douglas Paz explica que o rendimento real negativo da poupança desestimula o investimento, “de sorte que pra quem não tem prioridade em liquidez opte aplicar em outras formas de investimento, como por exemplo, títulos públicos”. Além disso, ele ressalta que para manter um padrão de consumo, num ambiente de crise, a população recorre à poupança formada na época de bonança. “Portanto, parte do dinheiro retirado da poupança vai para manter consumo e honrar compromissos e outra parte vai para outras opções de investimento mais atrativas.”
Boatos de confisco
Outra explicação para a retirada do dinheiro foram os boatos espalhados no país de que as aplicações seriam confiscadas, da mesma forma como ocorreu durante o mandato do presidente Fernando Collor de Mello (1990/1992). Neste ano em três oportunidades circulou pela internet uma informação falando sobre confisco nas contas poupanças no Brasil. Uma imagem nas redes sociais dizia que o Congresso e o governo teria aprovado o confisco do FGTS e das contas poupança com mais de R$ 10 mil para cobrir rombos no FIES e no BNDES, entretanto, a notícia é falsa. Conforme Laurici, foi criada uma legislação, após a medida de Collor, que proíbe o confisco da poupança. Ademais, se por qualquer motivo o banco quebrar, o governo garante o pagamento integral dos depósitos.
Escassez para habitação
Douglas Paz observa que a poupança é de fundamental importância para o crescimento e desenvolvimento de um país, pois mediante o sistema financeira, a poupança se transforma em investimentos produtivos (abertura e expansão de empresas). Logo, se a poupança diminui, por consequência o investimento diminui, o que acarreta em queda no crescimento da economia.
O Brasil está passando por um momento de ajuste fiscal, com inflação acima do teto estipulado pelo governo e aumento de tributos. Com menos dinheiro em poupança, surgem dificuldades para oferecer crédito imobiliário. O gerente da Caixa Econômica Federal em Beltrão explica que parte do dinheiro da poupança é usado para financiar novas moradias. O Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) é uma linha que utiliza estes recursos para a habitação. “No geral, os bancos diminuíram sua oferta do crédito habitacional, mas programas como o Minha Casa Minha Vida sem mantiveram inalterados.” Recursos escassos significam aumento dos juros, que subiu meio ponto percentual no ano.
Além da poupança, Laurici informa que a linha que usa recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). “Esta continua sem nenhuma restrição orçamentária.” Ele afirma que os moradores podem utilizar a linha pró-cotista, para quem trabalha há pelo menos três anos com carteira assinada. “Devido a situação econômica, todas as instituições financeiras estão mais criteriosas e exigem mais garantias. É uma tendência em época de desaquecimento da economia.” A Caixa detém 70% de todos os financiamentos de imóveis no país.