Após descobrir que a endometriose dificultava iniciar uma gravidez, a cerimonialista resolveu se dedicar ao tratamento da doença e, depois, à fertilização. Logo com um mês de gestação, Gelisa e o médico Marcelo Righi se surpreenderam ao ouvir os batimentos de três coraçõezinhos.

Todo esse tempo fora teve um bom motivo: realizar seu sonho de tornar-se mãe. Na foto, Gelisa e o marido, Muriel Biesuz, com as trigêmeas Helena, Clara e Isabela.
Foto: Caroline Moschei.
A cerimonialista beltronense Gelisa Lise e o marido, Muriel Biesuz, têm vivido a experiência de serem pais de três bebês. Para passar por essa novidade, ela buscou ajuda de muitos profissionais e contou com o apoio da família. Há somente uma semana de volta à sua casa, em Francisco Beltrão, após quatro meses em Curitiba, uma nova jornada se inicia: a de cuidar de três meninas e retornar ao trabalho. Para isso, ela continua a contar com muita ajuda. Clara e Isabela são gêmeas idênticas e Helena, que estava em uma placenta sozinha, foi quem nasceu primeiro. Uma história emocionante, com muitos desafios e um final feliz.

Foto: Caroline Moschei.
Você teve endometriose*, como descobriu e como tratou a doença para poder engravidar?
Eu tive endometriose e fiz um procedimento pra tirá-la. Tirei toda a endometriose que tinha e tentei fazer uma inseminação. Naquele momento, eu coloquei dois embriões, não obtive resultado. Depois, eu fiz novamente o exame e estava com endometriose de novo; era muito rápido o retorno da doença. A partir daí que decidimos fazer a fertilização. Muitas mulheres têm a doença e acham que não podem engravidar. A endometriose dificulta para a mulher engravidar.
A doença faz a mulher sofrer muito, inclusive…
Muito, muita cólica, muita dor e eu que sempre tive. Só que eu sempre quis engravidar. Era meu sonho ser mãe, mas eu fui prorrogando. Foi quando eu fiz uma cirurgia para retirar a vesícula que eu descobri a endometriose. Enfim, foi feita a inseminação, não deu certo, daí eu fui pra fertilização já novamente com endometriose.
Quando você fez a inseminação?
Acho que foi em março, há um ano, que eu fiz a inseminação e não deu certo, que eu já havia tirado a endometriose, aí voltou. Fiz de novo um procedimento cirúrgico para retirar a endometriose, logo em seguida tinha voltado. Então, mesmo com focos da endometriose, eu parti pra fertilização e coloquei dois embriões.
Você teve acesso aos procedimentos aqui em Beltrão?
Sim, só que em Beltrão eles não fazem fertilização, nem inseminação. O procedimento é em Pato Branco. O médico responsável pelo tratamento foi o Marcelo Righi, de Beltrão, mas o embriologista é em Pato Branco, na clínica Progênese, da doutora Martina Cordini. Enfim, eu fiz a fertilização em junho com a expectativa de que pelo menos um embrião se desenvolvesse, que desse certo. Eu tive a resposta, que eu fiz o teste gama, deu 520, supergrávida. Foi o Marcelo Righi que me deu o resultado, ele falou “tá supergrávida”. Ele comentou na época “pode ser até gêmeos”. Como eu havia colocado dois embriões, fiquei bem feliz. Eu tinha medo que a endometriose os expulssasse. Então, quando ele falou que eu estava grávida e “pode ser que seja dois”, eu fiquei bem feliz, a chance era maior.

Foto: Arquivo Pessoal
O médico já tinha te alertado da possibilidade de ter gêmeos?
Sim, de gêmeos sim, mas nunca passou pela minha cabeça ter trigêmeos, e também ninguém me contou que o embrião pudesse dividir. Eu fui fazer o primeiro ultrassom e tinha um saco gestacional, pra minha decepção, porque eu já estava feliz pensando nos gêmeos, mas fiquei na torcida pra que desse tudo certo; a gente sabe que até o terceiro mês existe um grande risco da mulher não conseguir desenvolver o embrião. Passou o primeiro ultrassom, fui fazer o segundo ultrassom 15 dias depois e havia dois corações batendo, daí foi uma alegria. Aí postei no Facebook e tudo, uma alegria!
Como descobriu que havia três coraçõezinhos?
Os dois eram bivitelinos, de placentas diferentes, comemoramos muito, então eu fui fazer uma consulta porque eu estava com gripe, não foi nem consulta por questão da gestação, com o dr. Marcelo Righi também, e ele “vamos fazer um ultrassom, aproveitar que tá aqui”. Fui fazer o ultrassom e, pra minha surpresa, havia três. Um embrião se dividiu.
E isso em que intervalo de tempo?
Foi pouquíssimo tempo, não deu, acho, 20 dias. Aí a gente descobriu os trigêmeos, duas da mesma placenta, ou seja, duas são idênticas e uma é de outra placenta. São três meninas. Eu fui lá, tranquila, pronta pra ver dois no monitor e na hora que ele colocou o ultrassom, eu olhei e já vi que tinha três bebês, porque de tanto ir fazer ultrassom e fazer acompanhamento da ovulação, já conseguia identificar muito bem as imagens. Quando eu vi, falei “não, não é o que eu tô pensando, né?”. Eu olhei pro dr. Marcelo, ele já estava branco.
Nem ele esperava.
Não, ele não esperava.
Você estava de quantos meses?
Tava de um mês. Aí ele falou “tô sem palavras”. Assim, a primeira coisa que passou na cabeça foi que eu sou pequena, então foi o medo se meu corpo iria aceitar três bebês. Eu falei “vou ter muita dificuldade, eu acho que vai ser uma gravidez de alto risco pra mim e pra elas”. Também as despesas, tudo implica. Foi um desespero total.
Como foram os cuidados a partir do momento que você conversou com o doutor e descobriu que estava com trigêmeos?
Começa pelo peso, é bem diferente ter três e um dentro da barriga. Começa a pesar, o colo do útero começa afinar, é uma preocupação. Desde o início eu tive que ter um cuidado maior. Como a minha profissão é cerimonialista, eu caminho muito durante o evento, ficava a noite toda em pé, a minha rotina era pra lá e pra cá, correria. Então ele falou “vamos desacelerar”. Eu tive que ter esses cuidados. Na medida do possível, fui diminuindo, principalmente a questão de ficar em pé, chegava em casa e pernas pra cima. Mas assim, sabe como é, a gente querendo ou não, não aguenta.
E a sua alimentação foi diferente por ser uma gestação de múltiplos?
Eu me preocupei muito, porque eu sabia que não ia chegar ao final da gestação; eu procurei uma nutricionista, a Dirce Opolski. Eu sabia que não chegaria ao final da gestação, mas queria que os bebês pudessem ter saúde, que nascessem com saúde, essa era a minha preocupação. Eu acho que foi um dos fatores que mais teve sucesso. Graças a Deus, eu cheguei nas 30 semanas, mas elas nasceram muito bem, com peso acima de um quilo, e só foram para a UTI pra ganhar peso. Elas não tiveram muita complicação, não tiveram problema de pulmão, não tiveram nenhuma infecção, estavam bem-formadas. Assim, eu acompanhei muitos pais na UTI, bebês que nasceram superbem, com quatro quilos, mas que tinham problemas. Eu acho que todas essas vitaminas, o acompanhamento com a nutricionista ajudou muito.
Você fazia exercício físico, alguma coisa?
Eu fazia academia, só que parei, pelo fato do peso e o que aconteceu comigo foi que, com 22 semanas, eu tava superbem, continuava trabalhando, menos, só que continuava, e de uma semana pra outra o meu colo do útero afinou, foi pra um centímetro. Eu tinha acompanhamento até com outro médico para ultrassom, especialista em alto risco, o dr. Márcio da Ros. Com 22 semanas meu colo do útero foi pra um centímetro, eu tava prestes a ganhar e, se eu ganhasse com 22, elas não iam sobreviver, não tinha como. No outro dia fui de avião pra Curitiba, cheguei lá e tive o acompanhamento de outro médico de alto risco.
Em qual hospital você ficou?
Nossa Senhora das Graças. E aí a gente fez um procedimento que se chama pessário. Isso foi o que segurou elas, é um anel de silicone, eles encaixam na ponta do útero e o segura. É bem interessante porque muita gente me chamou no Facebook, quando descobriu que eu tava com trigêmeos, perguntando como eu tinha engravidado, como que consegui, como que era a fertilização.
Até porque bastante gente teve o mesmo problema que você.
É, e muita gente está tentando ter filho, fazer fertilização e às vezes acaba achando que nunca vai conseguir. E o nosso profissional em Francisco Beltrão, que o Marcelo é especialista nisso. Então acho que motivou muita gente a dar continuidade ou a não desistir de ter filhos.

Então, o pessário foi determinante para chegar às 30 semanas?
Bom, depende também da pessoa, mas no meu caso eu acho que isso é fundamental. Quando uma pessoa tem trigêmeos, aconselharia a fazer um procedimento desses já no início da gravidez, pra evitar problemas. Não esperar, talvez, chegar ao ponto que tu tenhas um problema, mas fazer no início. Porque no meu caso já foi muito pior, eu estava ali com o útero quase estourando e aí que eu fui fazer, tive que ficar em repouso 24 horas, pernas pra cima direto, então eu já fui pra Curitiba, fiz esse procedimento e permaneci lá durante dois meses.
Aí você não voltou até o nascimento das gurias?
Nem voltei, nem poderia, porque eu estava tendo acompanhamento médico de lá. O médico falou “vamos tentar chegar em 28 semanas, chegando em 28 vamos tentar chegar até 30, vamos por partes”, porque até ele não acreditava que eu ia segurar tanto, chegar às 30 semanas, mas foi graças ao pessário. Elas começaram a crescer, eu sentia muita dor, imagina o desconforto de três bebês na barriga. E aí, no dia 24 de dezembro, nós achamos que ia passar o Natal em casa, eu comecei a ter contrações, muita contração de madrugada, já fui pro hospital de manhã e fiquei internada no CO (Centro Obstétrico), que é uma espécie de UTI, onde todo mundo vai se preparar pra ganhar os bebês. Aí eu fiquei uma semana internada no CO.

Foto: Caroline Moschei.
Você passou o final do ano ali?
Natal até véspera do Réveillon no CO. Ali eu tinha mais atenção dos médicos, porque não é um quarto, é justamente uma unidade intensiva das grávidas, tinha médico 24 horas comigo. O parto não aconteceu porque a minha placenta estourou, nada, foi porque eu não consegui mesmo, eu cheguei ao meu limite. Eu fiquei uma semana com contração, sem poder comer e sem tomar nada. Do dia 24 ao dia 31 só com medicamento na veia, eles chamam de “bomba”, e eles aumentavam essa bomba pra eu tentar segurá-las, pra inibir a contração, e eu já não conseguia mais, não estava mais tendo efeito dos remédios e cada vez mais contração. A gente queria tentar segurar, o importante era elas nascerem bem. Chegamos às 30 semanas no dia 31 de dezembro, daí cheguei ao limite, não dava mais, não tinha mais como segurar, aí a gente resolveu fazer o parto, a cesárea.
Você acha que foi determinante ter o apoio desses profissionais?
Foi essencial, com certeza, isso faz toda a diferença, porque daí ele te direciona para o que deve ser feito.
Você se sentia segura durante esse tempo?
Muito segura, nunca passou pela minha cabeça que eu fosse ganhar as meninas antes do tempo, eu acho que faz muita diferença você ser otimista. Eu acredito que muita gente deve ter pensado que eu não iria conseguir, que eu não ia chegar lá ou que elas iam nascer muito prematuras, mas, graças a Deus e com muita força, eu consegui chegar às 30 semanas e elas nasceram bem.
E a sua família, acompanhando todo esse processo, te deu bastante apoio?
A minha mãe, Terezinha, e minha sogra, Ines, foram essenciais, me deram bastante apoio, até fico emocionada. Foram dois meses com o acompanhamento delas, e não só elas, a família toda, porque as amigas, meu Deus, eu tenho que agradecer a todas as minhas amigas, à minha família, porque sempre ia pra Curitiba me visitar, estar comigo, sempre quem pudesse ia lá só pra me ver, ficava um tempinho comigo no apartamento, voltavam pra Beltrão. Mas a mãe e a minha sogra se revezavam, ficava cada semana uma. Eu estava de cama, então era 24 horas comendo deitada, só levantava pra ir ao banheiro, porque dava três passos só, então tomava banho sentada, foi um período bem crítico.
Precisava de alguém realmente ajudando o tempo todo.
Sim, eu tive enfermeira que me acompanhou, massoterapeuta, porque eu perdi toda a musculatura das pernas por ficar tanto tempo deitada, joelho perdi o movimento, foi bem complicado, agora a gente vai voltando aos poucos.
Depois que você fez a cesárea, os bebês foram pra UTI pra ganhar peso. Elas ficaram quanto tempo?
Elas ficaram 42 dias, essa foi minha jornada, pois eu permaneci em Curitiba. Todos os dias havia um pediatra na UTI, um deles, a doutora Cris Cardoso, que as acompanhou e continua acompanhando. Todos os dias, pelo WhatsApp, ela pede das meninas e a gente vai repassando as informações e ela vai, na medida do possível, dando dicas, medicando e tudo mais. Mas desde o início elas precisaram só três dias de oxigênio, depois ficaram em área ambiente, então isso foi muito bom e os médicos sempre falaram “a gente está se surpreendendo com as trigêmeas”, porque ninguém imaginava que elas iam estar tão bem.
Você está amamentando?
Eu amamento e dou complemento, porque não tem como amamentar três. Mas eu amamento, porque eu acho que o leite materno é bem importante para o crescimento e desenvolvimento delas.
Como era a rotina no hospital enquanto elas estavam na UTI?
Eram três horários de visita, bem dizer, eu passava o dia no hospital, porque eu ia 8h30 da manhã, a gente tem um processo de esgotar leite no hospital pra daí eles passarem o leite pras crianças pela sonda, que elas ficavam na sonda, e são fases na UTI. Tinha a fase da sonda, depois tiravam a sonda e iam pro peito, depois pra mamadeira, então saía da incubadora, ia pro berço, do berço pro quarto, do quarto ia embora. Foram essas as fases. Então eu ia 8h30 da manhã, pra esgotar o leite, daí ficava pro horário de visita, voltava pra casa pra almoçar. Uma e meia, duas horas, eu voltava pro hospital, esgotava leite, visita e daí já permanecia pra noite, dez horas voltava pra casa.
Era o dia inteiro no hospital?
O dia inteiro no hospital. E, assim, tinham outras mães, então, quando elas entraram na UTI em 16 bebês, eram mais 13 mães, a gente acabava tendo esse circulo de amizade de troca, tem um grupo no WhatsApp.
Trocava experiência com outras mães?
Isso mesmo, a gente trocava experiências, era um grupo de mães que se encontrava na esgota do leite e ficava o dia inteiro juntas, então você via as mães passarem por tudo, mães de fora.
Como é a rotina em casa?
Nós temos as babás, tem a mãe e a sogra, que continuam ajudando, o marido que é essencial, meu Deus, ajuda muito. Elas tiveram uma rotina na UTI e essa rotina está ajudando muito pelo fato de ser trigêmeos. Eu acho assim, muitos pais, o que acontece hoje, quando é um, a mãe ganha o bebê, no outro dia vai pra casa e boa sorte, a escola que você vai ter, vai ser em casa, e comigo não foi assim. Elas tinham uma rotina na UTI, então elas tinham um horário para mamar de três em três horas. Quando elas saíram de lá, a gente foi pro quarto para um período de adaptação, então nesse período que eu fiquei no quarto, que foram dez dias, primeiro foi com a Helena, que foi a primeira a nascer, fiquei três dias com ela, aí desceu a Isabela, fiquei mais três dias, então fiquei seis dias com as duas, e depois desceu a Clara, totalizando dez dias nós ficamos no quarto.

Foto: Arquivo Pessoal
Desceram por nascimento?
Não, porque nasceram a Helena, a Clara e a Isabela, nesta ordem. Mas para adaptação do quarto foi em ordem de peso, Helena, Isabela e Clara, isso que influenciou a descida delas.
Agora, em casa, elas ficam juntas o tempo todo?
Sim, as três juntas e vão permanecer por um tempo, a ideia é, claro, a gente ir pra um lugar maior depois e manter elas sempre juntas no mesmo quartinho.
Quando uma chora, acorda a outra, como é?
Não, porque cada uma tem a sua personalidade, então tem a Isabela que chora um pouquinho mais, a Clara já é mais meiguinha e a Helena que é super-sonolenta, ela dorme muito. Então uma não atrapalha a outra, a Helena tem o sono superpesado, é a que fica mais acordada, mas a que fica mais quieta e quando dorme, dorme pra valer.
Você tem uma babá que passa a noite aqui contigo?
Ela vai começar agora a dormir, por enquanto ela vem e vai pra casa, porque meu marido é piloto, então hoje ele está indo pra escala, agora vai ser preciso três pessoas pra noite, eu, a minha mãe ou a minha sogra e a babá.
Como você vê todo esse percurso que passou, toda essa história que você construiu pra conseguir ter suas nenéns, como você, agora, consegue olhar pra trás e analisar?
Eu acho que é um sentimento de gratidão, porque eu sempre quis ter filhos, é um sonho, e hoje eu me sinto realizada pelo fato de conseguir, ainda mais três, eu acho que não é pra qualquer pessoa. Eu acho que fui abençoada triplamente.

Foto: Arquivo Pessoal