
Diego Vinícius Fruet, 27 anos, muitas vezes deixou de ir à aula na infância para acompanhar o pai em viagens de trabalho pelas rodovias do Estado. Com o tempo, o destino se encarregou de transformar a aventura de garoto em profissão.
Depois de tentar a vida como jogador de futebol profissional, o jovem resolveu seguir os passos do pai e assumir a paixão pelo caminhão.
Há um ano e meio ele trabalha na empresa TDS Transportes, de Francisco Beltrão, que presta serviço para a unidade da BRF. “Meu sogro já trabalhava na empresa e um dia, numa partida de futebol, conheci o Márcio, que é o proprietário, e pedi pra ele arrumar trabalho de motorista quando surgisse uma vaga. Foi assim que comecei”, conta.

A moto pelo caminhão
Diego relata que viajava pela região de moto, fazendo cobranças para uma entidade beneficente, “mas encarar rodovias de moto era muito perigoso”. Ele recorda que o pai sempre trabalhou como motorista, transportando grãos, calcário, betoneiras, entre outros produtos. “Eu gostava de ir junto, porque conhecia lugares novos. O pai e o vô me incentivavam a dirigir e fui gostando cada vez mais.” E assim nasceu o gosto pela boleia.
Sonho de menino
O primeiro sonho de Diego, assim como de muitos meninos brasileiros, era ser jogador de futebol. Na adolescência ele fez e passou em um “peneirão”. Mudou-se para o Rio Grande do Sul. Ficou por lá dois anos jogando nas categorias de base e depois no time principal do Santo Ângelo. Recebeu uma proposta e retornou para Francisco Beltrão para jogar na equipe juvenil local, mas o atraso constante nos pagamentos fez o jovem desistir.
“Na época eu tava com 18, 19 anos e nunca tinha dinheiro no bolso. Pensei comigo: quer saber, eu vou é trabalhar que ganho mais. Hoje ainda sou fominha e jogo três vezes por semana, mas é mais pra brincar mesmo.”
Os desafios do interior
O motorista dirige a maior parte do tempo pelo interior dos municípios, encarando lamaçais, estradas sinuosas e buracos. “Os trechos de calçamento, no interior, estão em péssimas condições, piores do que as estradas de chão. E o segredo no barro é acelerar, porque se você segurar, ele derrapa”, reclama.
O tráfego de caminhões nas estradas rurais aumentou muito nas últimas duas décadas com o crescimento da produção agropecuária, principalmente de grãos, aves e leite. “A diferença de dirigir no interior é que tem que andar mais devagar, porque o caminhão é pesado e demora para segurar. Usamos bastante a marcha reduzida, segurando no freio a motor.”
Ele dirige um caminhão Wolks Constellation de oito marchas e é só elogios para a máquina. “Tem muito conforto, é caminhão novo e o patrão atende tudo que a gente pede. Algum tempo atrás precisava de ar-condicionado e ele mandou colocar em todos os veículos.”
Cada caminhão tem dois motoristas e há um revezamento, uma semana um trabalha de noite e o outro de dia, na semana seguinte os horários se invertem. A viagem mais longa da rota de Diego é para a comunidade de Saltinho, interior de Realeza – 110 quilômetros de distância. Os demais itinerários são mais curtos, em geral, no interior de Beltrão, Marmeleiro, Flor da Serra, Ampere e Itapejara D’Oeste.
O trabalho
O trabalho de Diego consiste em ir até a propriedade rural, carregar as aves e levar para o frigorífico, onde é feito o abate. Costumeiramente, na sua rota, são puxados caminhões de perus pequenos, de até 3,5 kg, que são vendidos inteiros para os consumidores. Mas há também os perus de até 20 quilos, tipo exportação, que são comercializados em cortes.
Quando chega na propriedade, o caminhão passa pelo arco de desinfecção e segue para o aviário. “É tudo automatizado, o braço mecânico desce a gaiola, os carregadores colocam as aves e em cerca de 30 minutos o caminhão tá liberado, é tudo muito rápido”, explica o rapaz.
Dependendo da distância, cada caminhão faz até três viagens por período, da propriedade até o frigorífico. Os perus menores ficam alojados 30 dias e em cada carga são transportadas até 1.680 aves – são necessárias quatro viagens para esvaziar o aviário. No caso dos perus grandes, que ficam na propriedade até 90 dias, são realizadas sete viagens, com uma média de 480 aves cada.