
Em Francisco Beltrão ficou evidenciado nos últimos meses o quanto os trabalhadores da construção civil se tornam vítimas fáceis de acidentes. Desde agosto de 2016, três trabalhadores sofreram acidentes graves com a rede elétrica. O primeiro foi no Bairro Nossa Senhora Aparecida e deixou sequelas no trabalhador, os outros dois foram neste ano, provocando a morte de dois trabalhadores (um pintor e um homem que instalava uma janela).
Dalva Colling, inspetora da Vigilância em Saúde do Trabalhador da Secretaria Municipal de Saúde, relata que um dos maiores problemas é a falta da cultura de prevenção. “Queremos que a cultura da prevenção seja incorporada na sociedade, aproveitando um mês significativo como abril para sensibilizar e cuidar da vida.” De acordo com ela, pesquisas indicam que o número de acidentes de trabalho aumenta ao final das jornadas, quando o trabalhador já está fadigado.
Como parte do Abril Verde no dia 10 houve uma capacitação do trabalhador rural, com foco em prevenção, e no dia 18 acontece a 2ª Conferência Municipal do Trabalho em Francisco Beltrão. Um dos temas será segurança no trabalho.
E não são só os acidentes, mas também as doenças originadas do trabalho que preocupam a sociedade. Dalva alerta que o uso indiscriminado de agrotóxicos tem crescido de forma alarmante no Município e região. “A quantidade de doentes devido ao câncer também é uma preocupação constante. Mais de 20% dos óbitos em nosso Município são ocasionadas pelo câncer.” Ademais, Dalva salienta que haverá uma audiência pública para repassar informações sobre como evitar acidentes com rede elétrica.
Acidentes na agricultura
Dalva afirma que existe uma preocupação grande com a quantidade de acidentes na agricultura. Por isso foi aplicado um questionário com agricultores que realizam atividades diversas como pecuária, produção leiteira, avicultura, suinocultura, hortifruticultura, etc. “Todos afirmaram que nunca receberam treinamento sobre os riscos de cada atividade, mesmo utilizando grande quantidade de ferramentas e produtos químicos. Mas constatamos que eles têm consciência de que os maquinários, se não forem corretamente manejados, podem causar inúmeros acidentes.”
Quantidade de vítimas impressiona
A região Sudoeste do Paraná tem uma média de seis acidentes de trabalho por dia. De 2002 a 2013, conforme levantamento do Jornal de Beltrão no sistema estatístico da Previdência Social, foram registrados 26.189 acidentes de trabalho. Esse quantitativo se dividiu em 13.204 (51,4%) de acidentes típicos; 2.057 (7,86%), acidentes de trajeto; 287 (1,09%), doenças ocupacionais; 10.641 (40,63%), acidentes sem Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) – que deve ser emitida obrigatoriamente pelo empregador na constatação, suspeita ou agravamento da LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos/Doenças Osteoarticulares Relacionadas ao Trabalho), com o afastamento do trabalhador da atividade e encaminhamento ao INSS.
Neste período foram registradas 120 mortes, uma média de 10 óbitos em acidentes de trabalho por ano na região. O Município campeão foi Francisco Beltrão, com 22 mortes. No Paraná, as estatísticas revelam um total de 533.139 acidentes de trabalho em 12 anos. O mesmo que um acidente a cada 11 minutos. São 2.680 mortes em todo o Estado.