Nascido em 2 de abril de 1950, mas registrado em 2 de outubro daquele ano, Vilmar Cordasso é gaúcho de Quatro Irmãos, comunidade que hoje pertence a Jacutinga, naquele tempo pertencia a Erechim. Em 1959, seus pais, Salvino Fiore Cordazzo e Adelina Rampanelli, mudaram para o Paraná, com seus quatro filhos (Vilmar é o penúltimo), estabelecendo-se na Fazenda Mazurana, Dois Vizinhos, com moinho e serraria.
Vilmar saiu de casa para estudar. Irmão Cirilo Korbes, que trabalhava pelas vocações, levou-o para o Colégio La Salle de Francisco Beltrão. Depois continuou os estudos em São Paulo e Minas Gerais e acabou voltando para a região. Serviu o Exército em Beltrão e cursou Letras em Palmas. Foi professor, trabalhou na Copel e na Fabcar Veículos, chegando à gerência da empresa. Depois que deixou a prefeitura, em 2009, Cordasso abriu uma imobiliária e buscou formação específica – em 8 de abril de 2010 ele obteve o registro de Técnico em Transações Imobiliárias.
Em 1973, casou com Rosmari Balotin, com quem tem três filhos – Vanessa, Luciano Cirilo e Alessandra – que já lhes deram seis netos: Luana, Leonardo e Áttico Neto, filhos da Vanessa e Áttico Pedrolo Júnior; Luca e Enzo, filhos de Luciano e Márcia Bonetti; e Isabella, filha da Alessandra e José Rivas La Rosa.
Na vida pública, em 1992 Cordasso deixou para o vice a presidência da Associação Empresarial para se candidatar a vice-prefeito de João Arruda (92/96). Em 96, concorreu para prefeito e perdeu para Guiomar Lopes. Em 2000, elegeu-se prefeito e se reelegeu em 2004, tendo as duas vezes o atual prefeito Wilmar Reichembach como vice. Agora ele volta a disputar a prefeitura. Na correria da campanha, ele encontrou um tempo, na última quarta-feira, para esta entrevista.
O que motivou vocês a virem pra Dois Vizinhos? Meu pai tinha uns amigos que eram sócios de serraria e na Fazenda Mazurana existiam outros conhecidos que tinham terras e que tinha pinheiros, então veio uma sociedade, alguns trazendo a serraria e outros fornecendo a matéria-prima, juntaram-se todos e fizeram uma serraria pra aproveitar a época do pinheiro.
E seu pai era sócio? Ele era sócio, era uma serraria pequena e muitos sócios. Foi um período que houve evolução, mas uma evolução relativa, porque era um negócio que não era tão rentável, do pinheiro só se aproveitava a parte mais nobre.
Como era a infância do garotinho Vilmar Cordasso? Subindo em árvore, caçando passarinho, nadando no riozinho, brincadeiras de criança de interior, essa era a realidade, uma infância boa, tranquila, sem grandes problemas. O estudo era um pouco complicado, porque depois do meu último ano de estudos na Fazenda Mazurana, eu comecei na aula em Dois Vizinhos e eram 6 quilômetros que a gente fazia a pé, às vezes ia a cavalo, o cavalo ficava amarrado do início até a saída da aula.
E os outros irmãos? Lembro que eu tinha umas irmãs mais velhas que naquele tempo era bastante comum estudar até a 4ª série e parar de estudar. Como aconteceu com os meus pais: eles estudaram até o quarto ano, e a minha mãe até o final da vida sempre reclamou que não pôde continuar estudando, que gostaria de ter estudado, e ela sem dúvida seria uma empreendedora, porque era uma mulher muito resolvida, mas nasceu no tempo errado. Se ela fosse desse tempo agora, seria uma mulher muito participativa, empreendedora dentro da visão atual.
E a decisão de vir pra Beltrão foi dos pais? O Irmão Cirilo passou no colégio e pediu quem queria estudar pra irmão lassalista, e eu acho que algum espírito superior me sugeriu levantar a mão e eu disse ‘eu quero’, e a partir daí o Irmão Cirilo passou em casa, os pais concordaram e no ano de 63, eu tinha 12 pra 13 anos, eu vim estudar no La Sale em Beltrão. Onde hoje é o Fórum existiu o La Sale, em 63 e 64. Em 65 eu fui estudar interno no La Sale em Adamantina (SP). Em 66 e 67 em Machado, sul de Minas Gerais, fiquei cinco anos no La Sale.
O seu contato maior é com qual dos irmãos? Olha, tem um ex-professor que mora aqui em Beltrão, que é o Ivo Kuhmmer, o irmão Ivo, lá em Adamantina ele era professor nosso. De Machado, sul de Minas Gerais, eu lembro do Expedito, que foi meu professor. Me lembro muito bem do professor Vicente De Carli, ele era chefe do internato, mas não do La Sale. Em Machado, existia um internato pra filhos de pessoas poderosas. Eu lembro que tinha dois filhos de embaixador, por exemplo, que eram internos em Machado. O professor Vicente era muito rigoroso. Eles tinham o dia de folga pra sair na cidade e tal, quando alguém não se comportava bem ou não tinha nota boa, não deixavam sair e, além de não sair, normalmente, tinha punições como ler um livro, decorar poesia, era o que ele mais gostava. Mas foi um período bem marcante, e ele dava aulas pra nós, aulas de português também, muito rigor.
E ao chegar em Beltrão o senhor lembra alguma coisa que o impressionou? Bem, quando nós viemos pra Beltrão foi em 63, a avenida era de barro, tinha um posto de gasolina onde é o relógio hoje. A gente lembra daquela cidade que tava se iniciando praticamente, e o La Sale a gente ficava impressionado pelo tamanho. Ali tinha sido um hospital e era uma bela construção, e era enorme, a gente estranhava aquilo. Tinha uns 50, 60 internos no mesmo dormitório, uma cama do lado da outra com um pequeno guarda-roupa e todos dormiam ali. O diretor nosso era o Bruno Krauspenhar, que como irmão tinha o nome de Januário.
E esse retorno pra Francisco Beltrão, como foi? Aconteceu o seguinte: em 67 eu terminei o ginásio, que a gente falava, 8ª série seria, lá em Machado, e a partir desse momento eu decidi não continuar como interno, logicamente na hora de estudar não queria parar de estudar, graças a Deus tinha isso na cabeça, daí nós fomos estudar em Pato Branco, fiquei um ano lá, porque tudo era Pato Branco. Falava em estudar era em Pato Branco, advogado era Pato Branco, médico era Pato Branco, os negócios eram tudo em Pato Branco, então foi meio natural, eu fui estudar em Pato Branco e lá tive um ano complicado em 68, porque eu parei em duas pensões diferentes, república, trabalhei em três, quatro lugares em um ano, em churrascaria, numa lojinha de fruta, numa lojinha de peças, fiz trabalhos manuais, trabalhei plantando grama, auxiliar de pedreiro, tudo isso pra sobreviver, pra pagar a pensão.
Isso com 17 anos? É, 17 anos. Fiz de tudo um pouco, tinha que me virar. O pai, quando eu precisava, me ajudava, mas eu não gostava de pedir pro pai, eu era meio teimoso. Em 69 chegou o período militar, eu fui a Beltrão pra prestar o serviço militar e fiz questão de entrar no quartel. Engraçado porque eu não fugi do quartel, não achei argumento, eu fazia questão de participar. Eu acho que foi porque o ano tinha sido muito duro, então eu achava que no quartel seria melhor do que foi lá, mas foi interessante. Eu vim pra Beltrão, o comandante era o major Curió, o famoso Sebastião Rodrigues de Moura, que está sendo muito comentado agora, que tem um município chamado Curionópolis que comandou Serra Pelada, está no centro, no foco dessa equipe que estuda a comissão da verdade, tem livros enormes sobre ele, ele foi o meu comandante aqui uns quatro, cinco meses. E nesse período eu consegui estudar, fazer o 2º ano do colégio, que o 1º ano eu fiz em Pato Branco. E por incrível que pareça prestei o serviço militar e consegui passar de ano, como? Porque quem presta serviço militar não tem tempo, você tira a guarda, tem ações, fica no quartel, você perde muita aula, mas a minha fase de ginásio tinha sido muito forte, então qualquer assunto, alguma coisa a gente conseguia se escapar e passar mesmo que não soubesse o que era o tema da prova, a gente sempre conseguia tirar alguma nota pra passar, e não perdi o ano, isso foi importante.
O senhor foi trabalhar também em Beltrão? Durante o período militar eu prestei concurso no Banestado e na Copel, quando eu saí, não tinha dado o resultado ainda. Eu voltei pra Pato Branco e fui trabalhar na fábrica da Derivados de Cimento Pato Branco, do seo Elói Hartmann, que é o pai do Júlio Hartmann, que hoje é secretário do Viganó. Me dei muito bem com eles, mas eu fiquei três meses lá e aí me chamaram aqui em Beltrão, na mesma semana me chamaram nos dois, fui o primeiro a ser chamado. Aquela base boa que eu tive no ginásio deve ter me colocado em primeiro lugar na região de Beltrão na Copel e no Banestado. Lembro que eu fui conversar com o seo João (Arruda) do Banestado, fui conversar na Copel, e eu tinha aquela determinação de que queria continuar estudando, fazendo uma faculdade, e aí acabei optando pela Copel. Eu trabalhei dois anos na Copel aqui – 70, 72 -, depois eu acabei abandonando a Copel porque eu fiz faculdade em Palmas, que era faculdade de fim de semana, mês de julho inteiro, mês de janeiro e fevereiro também, daí eu acabei saindo da Copel também porque não dava pra compatibilizar as duas coisas. Inclusive eu saí arriscando, porque eu tava pra assumir a gerência da Copel aqui; era um passo enorme, mas eu não poderia continuar estudando e optei por fazer a faculdade. Aí veio mais um período duro, porque eu passei um tempo fazendo bico, dando aula particular, tinha um projeto tipo Mobral pra pessoas que ficaram pra traz e queriam voltar a estudar. Muitos amigos aí até hoje lembram, dei algumas aulas em colégio e aulas particulares e eu consegui concluir a faculdade. Eu queria ser advogado ou arquiteto, é meu sonho, mas a única faculdade que tinha no Sudoeste era em Palmas, estrada de chão daqui até lá – veio asfalto um ano depois que eu terminei a faculdade. Tinha Filosofia, Letras, acho que História e Geografia, algo assim, entre todos eu achei que Letras mais me atraiu. Acabei fazendo Letras em Palmas, o falecido Albino D’Agostini tinha um Fusca e também fazia faculdade, e eu aproveitava as caronas dele, a gente saía daqui sexta de tarde, tinha aula sexta à noite, sábado de manhã, de tarde e de noite e domingo de manhã. Domingo de tarde a gente vinha embora. O mês de julho era de manhã, de tarde e de noite, por isso eu conheço muito bem o frio de Palmas, porque eu ficava o mês inteiro lá. No final do ano também havia, janeiro e fevereiro, eram três períodos, isso completava a grade escolar.
E o seu namoro com a Rosmari como é que foi? Foi bem interessante. Minha mulher parava numa república de moças onde era o prédio do Dósio Dallamaria, aquele prediozinho onde hoje é a Pampas Grill. Paravam várias moças e nós, vários amigos, acabamos namorando ali, praticamente tomamos posse do local, fechamos, colocamos um monopólio (risos), foi mais ou menos assim, decidido e ninguém mais entra. Mas eu conheci a Rose nos dias que ela chegou, ela estudava em São Lourenço do Oeste. No dia que ela chegou, me chamou muito a atenção aquela loira bonita, com olho azul muito forte, e outros detalhes me chamaram bastante a atenção. E aí houve um namoro e o resto é conhecido, hoje já estamos curtindo seis netos e 39 anos de casados.
Foi quanto tempo de namoro? Mais ou menos dois anos, nos casamos dia 1º de setembro de 73, casamento patriótico, na semana da pátria, foi naquela semana que a gente conseguiu uma folga dos colégios e tal, foi um período adequado pra poder viajar um pouco.
Teve lua de mel? Teve, nós viajamos de ônibus, mas viajamos. No começo da nossa constituição da família, a gente viajava todo ano, ia pra praia, fui pra Guarujá (SP), São Vicente de ônibus, a gente ia pro litoral paranaense de ônibus. A lua de mel foi com o corte da gravata, nós fomos até Florianópolis conhecer Lagoa da Conceição. A primeira vez que pedi um prato de frutos de mar, que a gente não conhecia, nós pedimos uma sopa de camarão, só que era completa, vinha camarão de tudo que era tipo, a gente tinha que olhar os vizinhos pra ver como é que fazia pra comer aqueles bichinhos, mas foi divertido.
Tem algum filho que gosta de política? Mais a Alessandra. O Luciano vota porque é obrigado, ele é executivo, hoje está bem em Curitiba, fez a Fundação Getúlio Vargas, fez curso no exterior e está bem, o executivo está no que ele gosta. A Alessandra está com o consultório dela lotado, se especializou em crianças, e a Vanessa, dentista, também presta serviços no posto de saúde do Jardim Floresta. Todos eles estão bem encaminhados, esses meus três filhos já me deram seis netos – o Luciano tem gêmeos de 3 anos; a Vanessa tem a Luana de 16 anos que vai votar, inclusive, pela primeira vez, o Leonardo de 13 e o Áttico de 4 anos. E a Alessandra tem uma filha de 12 pra 13 anos. Dos três, quem se interessa mais pela política é a Alessandra, que possivelmente, no futuro, quem sabe na próxima eleição, talvez seja candidata a vereadora. Quem sabe seja aí uma futura prefeita de Beltrão.