JdeB – Dos atuais candidatos paranaenses, o senador Álvaro Dias (Podemos) é talvez o mais experiente, pois iniciou sua carreira política há 54 anos (elegendo-se vereador de Londrina, em 1968). Ele lembra do tempo que os comícios eram permitidos. Nesta entrevista ao Jornal de Beltrão, terça-feira, 6, ele fala também dos motivos que o levam a se candidatar a senador pela quinta vez, aos 77 anos.
– Como está indo a campanha?

Álvaro Dias – Vai bem. É uma campanha diferente. Não tem grandes concentrações com artistas como tivemos durante um bom tempo. Eu até me lembrei de um comício que eu fiz em Francisco Beltrão, o Sérgio Reis sobrevoou e não conseguiu descer, que o tempo estava ruim e a multidão esperando. Essa campanha é diferente. A gente tem que contar mais com os interlocutores, que são as lideranças, os prefeitos, os candidatos também à Assembleia, Câmara dos Deputados, que acabam multiplicando e fazendo com que a nossa mensagem ao nosso projeto chegue às pessoas. Eu acho que isso alterou bastante e também a comunicação vai valorizar mais. Temos que dar muitas entrevistas em rádio e nos veículos que podem multiplicar a mensagem. E essa está sendo mais difícil. É mais disputada para o Senado que 98 a 2006. 2014 foi relativamente fácil. Fica mais emocionante que é do governo do Estado e só está avaliando essa diferença no Senado, mais disputado do que o governo do Estado. Na verdade, o fato de estar de certa forma isolado com uma coligação própria dificulta em matéria de estrutura. Mas eu já tive outras eleições dessa forma em 98, em 2006 eu também fui isolado e aí não tinha uma estrutura monumental para fazer a campanha. E nesta eu sou muito grato pelo resultado das pesquisas, porque pela última pesquisa PEC Globo daria em torno de um milhão de votos de frente. É uma margem muito significativa. Então sou muito grato à população, porque isso certamente reflete a valorização do rol de realizações. Na verdade, como eu venho de longe e tive a oportunidade que me concedeu a população do Estado de realizar como governador e como parlamentar, acho que isso tem um peso além da postura ética que sempre adotei, aqueles que dizem estar lá há muito tempo. Isso é muito bom, porque, apesar de que estou muito tempo, está com a ficha limpa. Então, há os que chafurdam nessa imoralidade, logo na entrada, nem assume o mandato e já se lambuzou. Isso eu acho que tem um peso preponderante na decisão do eleitor. Além dos resultados dos mandatos, tem a postura, que é uma exigência sempre da população, de postura ética, de comportamento do político. A população exige que se abra mão de privilégios, que se combata privilégios. Isso tem sido uma marca da nossa trajetória. Por exemplo, a aposentadoria de ex-governador. Eu sou o único que não recebi em 29 anos. Não seria pouco. Seria mais de 11 milhões de reais, auxílio-moradia que eu não recebo. Não uso apartamento funcional, não uso verbas indenizatórias para manter atividade do mandato, meu escritório em Curitiba etc. Despesas que faço com os meus próprios recursos. Mas o fundamental é a coerência e o resultado. Eu acho que isso tem um peso e o eleitor valoriza isso. E, no meu caso, agora, a experiência que nós vamos viver momentos cruciais para o futuro é a experiência adquirida graças à generosidade da população do Paraná. Será útil para a busca de convergência, de consenso e matérias importantes. Eu ultrapassei a fase do protagonismo na oposição. Agora eu quero ser protagonista da construção. Ajudar na construção do País vai viver momentos delicados, seja quem for o presidente. Eu tenho dito exatamente isso. Seja qual for o presidente, eu quero contribuir para que as reformas aconteçam e nós possamos abrir uma janela de oportunidades para as pessoas viverem melhor. Eu acho que a legislação boa oferece oportunidades. A legislação má cria dificuldades. E o Senado é a Casa revisora da legislação, então tem grande responsabilidade em relação à boa ou má legislação para o País.
– Por que o senhor não quis ser candidato a presidente este ano?
– O partido queria que eu fosse candidato. Achei tarde. Foi na convenção recente e por unanimidade, todos os estados manifestaram o desejo de que eu disputasse a Presidência. Mas eu disse que nós tínhamos que fazer uma avaliação madura sobre a realidade, que a polarização se consolidou. É um fato consumado. Então, os olhos da população estão voltados para o candidato da esquerda ou para o candidato à direita. E quem caminhasse ali tardiamente, como era o nosso caso pelo centro, poderia ser atropelado sem chances de avanço. Eu achei melhor cumprir a minha missão no Senado. Havia um apelo também para disputar o governo, mas achei que onde eu poderia ser mais útil, depois de toda a experiência adquirida, seria no Senado, porque é o nosso regime presidencialista. O presidente da República tem poderes extraordinários para promover reformas? A iniciativa tem que ser dele, mas nós podemos encorajá-lo a tomar iniciativas, adotar providências e encaminhar a proposta de reforma. E no Senado, além do aprimoramento, nós temos que, com equilíbrio, buscar o consenso, a convergência para que essas reformas sejam aprovadas. Eu acho que é a missão mais adequada.
– O senhor tem mais de 50 anos desde que começou a sua carreira política. Qual foi o período mais difícil e o mais fácil de fazer campanha?
– Antes era mais empolgante, porque você fazia aqueles comícios gigantescos e via a emoção das pessoas à sua frente. Agora, essa campanha, em que pese o fato de não ter as grandes concentrações, tem sido muito emocionante para mim, porque as pessoas vêm contando histórias vividas por quem, na verdade, nós fomos escrevendo juntos, uma história sem igual na política do Paraná. São tantos mandatos e os acontecimentos se sucederam e tem uma história em cada lugar, sempre muito interessante e emocionante. Eu tenho me emocionado bastante nesse itinerário de campanha e em vários municípios. Em São Luís, por exemplo, cheguei em importantes dias e veio um pessoal. Estava esperando. Eu desci de helicóptero e um bom público ali esperando e vem uma senhora muito fragilizada e a filha carregando a bisavó. Minha mãe está fazendo um tratamento de câncer há 15 anos. Ela estava de cama, soube que você vinha. Ela quis levantar da cama e veio para te receber. Então, eu criei um ambiente de emoção sem igual. Isso tudo porque? Porque ela viveu outros momentos da nossa trajetória política, participou de outros momentos e que traz essa recordação. Então, isso tem trazido emoção para a campanha nesse aspecto da emoção. Era uma campanha diferente também.
– Existe uma divisão no Brasil, entre a parte de cima e a parte de baixo, no mapa. Fora o lado econômico, a gente vê também agora, nas pesquisas, num lado lidera um candidato, no outro lado a liderança é de outro candidato. Como equilibrar o Brasil?
Alvaro Dias – Isso mostra que é um país continente. E exatamente essas diferenças regionais é que dificultam a aprovação de reformas importantes, porque os interesses também são difusos. O próprio mapa eleitoral do País mostra isso. Um candidato mais à direita no Sul e outro mais à esquerda no Norte Nordeste. Para unir esse país não é fácil. É por isso que eu reputo como importante a missão do Senado. Não se trata de ser algodão entre cristais, porque há esse choque entre os poderes ultimamente. Supremo. Congresso. Executivo. O presidente da República. Mas eu acho que o equilíbrio e o bom senso no Senado podem contribuir para diminuir a intensidade dessa polarização, dessa dicotomia que acabou sendo, inclusive, geográfica. Como você bem destacou que o Sul tem uma posição, Norte Nordeste tem outro, Sudeste já equilibra um pouco porque tem Minas de um jeito, o Rio do outro, São Paulo e outro. Mas nós temos essa diversidade de posições em relação a candidaturas à Presidência, que reflete exatamente uma diferença de aspirações e de comportamento. Essa é a dificuldade de administrar num País continente como o nosso. Há divergências até para chegar a consenso em relação a reformas. Reforma tributária, por exemplo. A dificuldade do consenso é enorme, por isso que é fundamental a liderança do presidente da República tomando a iniciativa. O presidente tem que tomar a iniciativa da proposta e buscar o apoio da sociedade e levar ao Congresso. Aí facilita a aprovação. A reforma política é uma exigência. Eu acho que é a matriz das demais reformas. Se nós realizarmos antes a reforma política, teríamos mais sucesso nas outras, porque eliminaremos alguns gargalos que existem aí. Uma reforma política não é isso que se faz de vez em quando, principalmente às vésperas das eleições. O que se faz é um remendo, a colcha de retalhos, sempre procurando preservar os mandatos em defesa da preservação dos mandatos, para facilitar aos detentores de mandatos e dificultar a oxigenação da política com o ingresso de novos talentos ou lideranças na atividade pública. Nós temos que fazer uma reforma, que é outra coisa que eu sempre defini como sendo de iniciativa do presidente da República.