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Francisco Beltrão
segunda-feira, 02 de junho de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Agricultor ganha prêmio de produtividade sem aplicar agroquímicos

Regional

Do Sistema Faep – O produtor rural Laércio Dalla Vecchia, de Mangueirinha, tinha um sonho: produzir mais de 100 sacas de soja por hectare. Amparado pelos conceitos do plantio direto e das técnicas do Manejo Integrado por Pragas (MIP), o agricultor foi além. Dalla Vecchia sagrou-se campeão do Desafio Nacional de Máxima Produtividade, chancelado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), ultrapassando a própria meta. No talhão cultivado para o concurso, o sojicultor colheu 118 sacas por hectare. E mais, conseguiu atingir essa produtividade sem ter feito aplicação de inseticidas e fungicidas.
“Não tem nada de produto milagroso. O segredo é fazer tudo na hora certa, no tempo certo, do jeito certo, tudo com muita paixão e amor. É [fazer] o monitoramento, estar todo dia no campo, vendo como está se desenvolvendo a lavoura. Tem aquele ditado que é o olho do criador que engorda o porco. Na lavoura, não é diferente”, diz Dalla Vecchia. “Eu tenho orgulho de dizer que essa área foi campeã com zero aplicação de inseticida. Está mais que provado que não precisa passar veneno se não tiver dano [à lavoura]”, acrescenta.
Este é o quinto ano consecutivo em que Dalla Vecchia participa do Desafio do Cesb. Desde então, o produtor separa um talhão de sua propriedade para ampliar a produtividade. Na ocasião, o agricultor não perdia de vista a sua meta. “Eu pensava assim: ‘Se o pessoal do Cesb consegue fazer 100 sacas por hectare, eu também consigo’”, diz. Apesar disso, no início, o produtor cometeu alguns equívocos. Erroneamente, pensou que bastava aplicar produtos agroquímicos para que sua lavoura se desenvolvesse.
“Eu tinha em mente que para colher bastante precisava investir bastante. Fazia cinco aplicações de fungicida e [aplicava] mais um monte de adubo. Fazia tudo que podia, quimicamente. O meu soja vinha bonito até uma altura, mas chegava no final e 40%, em média, morriam por doenças radiculares e perdia o rendimento. Faltava um elo na minha corrente”, conta Láercio.
Além das próprias experiências “empíricas” — como ele mesmo define —, Dalla Vecchia sempre esteve em uma busca incessante por informações. Participa de diversos grupos com outros produtores, em que troca experiências. Além disso, a grande virada ocorreu quando o agricultor se aproximou das técnicas do plantio direto e do Manejo Integrado de Pragas.

Laércio com os pais: premiação nacional com agricultura orgânica.

 

MIP como tecnologia de campo
Em 2018, ele frequentou o curso de MIP do Senar-PR, em que aprendeu que, a partir do monitoramento constante da lavoura, pode conduzir a cultura de forma mais racional. Na ocasião, dividiu sua propriedade em duas áreas. Uma delas, conduziu de acordo com as técnicas do MIP e não foi preciso aplicar inseticida. Na outra, precisou fazer mais de três aplicações. “Foi uma experiência muito positiva. De lá pra cá, aplico MIP em 100% das áreas.”
“Era isso o que estava me faltando. A partir daí, eu comecei a pensar diferente. Comecei a fazer monitoramento direto, coloquei plantas alternativas, fiz calagem de solo, rotação de culturas, adubação de sistemas. É só o básico, mas preparando o solo com muito capricho, focando em uma agricultura sustentável voltada a fazer o que é preciso, com muito amor”, acrescenta o agricultor.
Além do talhão cultivado para o Desafio do Cesb — e em que obteve produtividade de 118 sacas por hectare —, Dalla Vecchia manteve o mesmo padrão no restante de sua propriedade. Também conseguiu excelentes resultados, colhendo 90 sacas por hectare, na média geral. Entusiasta do MIP, o sojicultor não abre mão de, ele mesmo, vistoriar a lavoura e cuidar diretamente do solo. “O monitoramento é aplicar o que realmente precisa e na hora certa, de forma eficiente. Isso vai gerar sustentabilidade e lucratividade. O produtor tem que acompanhar a lavoura. Não pode delegar essa função para o técnico ou para o agrônomo.”
Dalla Vecchia não é um caso isolado. O MIP tem ajudado a produtores de toda a região a fazer o monitoramento das próprias lavouras e a conduzir as culturas de forma mais sustentável e racional, sem abrir mão da produtividade. Instrutor do Senar-PR, o engenheiro agrônomo José Vescovi exemplifica que, no último curso de MIP oferecido na região de Mangueirinha, a média nas 16 lavouras conduzidas nas práticas foi de 1,1 aplicação de agroquímicos. Sem o MIP, a média de aplicações é de 3,5 na região.
“O MIP tem ajudado muitos produtores a manter ou ampliar a produtividade, com maior sustentabilidade. Ele faz o controle e só entra com defensivos quando há necessidade, com o produto certo e na hora recomendada. Isso tem propiciado redução de aplicações, diminuindo custos e o impacto ambiental”, diz Vescovi. “O produtor que faz MIP se torna mais crítico e racional. Temos trabalhado com o MIP há quatro safras e vimos que as técnicas reduzem significativamente o número de aplicações na lavoura”, acrescenta.

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Cursos do Senar-PR
Além do MIP, Dalla Vecchia se formou em outros dois cursos ofertados pelo Senar-PR: Operação de implementos agrícolas e o Programa Herdeiros do Campo. Nas entrevistas que concedeu após ter conquistado o título de campeão do Cesb, o agricultou enfatizou a importância das capacitações. “Quero agradecer o Senar-PR e os cursos de MIP”, destacou.
O presidente do Sindicato Rural de Pato Branco, Oraldi Caldato, festejou a conquista de Dalla Vecchia, ressaltando que o exemplo do produtor premiado atesta o potencial produtivo da região. “No Sudoeste, nesta última safra, batemos um recorde histórico, ultrapassando 1,3 milhão de toneladas, com produtividade média acima de 80 sacas por hectare. O pessoal está buscando muito o aperfeiçoamento, conhecimento, rotação de culturas, trabalhando cobertura.”
Caldato destaca que Dalla Vecchia tem servido de exemplo, como uma “vitrine” a outros produtores da microrregião de Pato Branco, que abrange 15 municípios. “Ele tem participado de muitos eventos, como palestras, falando de suas experiências em relação a solo, a cobertura e, na questão da soja, apresenta resultados interessantes demais. Ele tem servido de exemplo a muitos agricultores.”

 

Agrônomo destaca a importância
da adubação e da rotação de culturas

JdeB – O engenheiro agrônomo Cleiton Pontel, da Coamo de Mangueirinha, aponta como ponto forte da alta produtividade de soja de Laércio Dalla Vecchia os seguintes fatores: rotação de cultura, aplicação de gesso e calcário (gessagem e calagem, no linguajar técnico) e a adubação química e orgânica (cama de aviário).
“O forte é a rotação de culturas, daí vem a rotação de raízes no solo, que fica mais estruturado para a planta enfrentar diversidades, como a falta de chuva deste ano”, destaca Pontel. O agrônomo salienta que essas práticas não são recentes, Dalla Vecchia vem usando e aperfeiçoando há vários anos.
Ainda segundo Pontel, o cultivar usado por Dalla Vecchia foi o Zeus BMX 55i57 e a produtividade ficou bem acima da região, que normalmente fica pouco acima dos 60 sacos por hectare e que nesta safra, que foi a de melhor produtividade, na média geral da região está em torno de 70 sacos de soja por hectare.
Ivano Carniel, do Deral de Pato Branco, confirma o cálculo do Cleiton Pontel. Na safra passada, a média da soja no Regional de Pato Branco foi de 61,2 sacos por hectare, ou 148 sacos por alqueire. Na safra atual – embora ainda com números não definitivos –, a estimativa é de 68,3 sacos por hectare, ou 165 por alqueire. E o Dalla Vecchia produziu 90 por hectare na média geral da propriedade (2017,8 sacos por alqueire) e 118 naquela área de dois a três hectares colhidos para o Cesb, que ficou em 118,8 sacos por hectare, ou a excepcional colheita de 287 sacas por alqueire.
Uma produtividade como esta, num ano de bons preços como este, se vender a R$ 100,00 por saca (como muitos venderam), dá R$ 28.700 por alqueire. E o gasto foi menor que o da maioria das demais lavouras porque, devido ao manejo de pragas e o correto monitoramento da lavoura, a aplicação de inseticidas e fungicidas (o tempo seco ajudou a afastar doenças) ficou em zero.

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