
Por Murilo Fabris – Não me surpreende que a onda rosa que se espalhou pelos quatro cantos do mundo nas últimas semanas tenha incomodado tanto algumas pessoas. O que me intriga de verdade é ver o povo encaixar Barbie na categoria de filme infantil. Duas questões ligadas uma à outra mas, como o açougueiro diz: vamos por partes.
Ouvi dizer que muitas crianças ― e também alguns pais ― têm saído desapontadas das sessões e não é difícil entender o porquê. A razão me parece simples: quando a carismática protagonista precisa deixar a perfeição da Barbielândia pra encarar o mundo real, vai caindo a ficha de que as coisas são bem diferentes do que contaram pra ela. Assim como a Barbie, imagino que muitos pequenos tenham pouco ou quase nenhuma noção de assuntos como patriarcado, capitalismo ou depressão. Temas que são tratados com muito humor, sagacidade e leveza ― mérito da diretora Greta Gerwig.
Agora, se você não viu a epidemia pink que tomou conta dos cinemas, vitrines e mídias sociais pra lá e pra cá, imagino que o algoritmo do seu celular tenha falhado em algum momento. Enfim, pra quem se irrita com esse “fenômeno”, o filme deixa sua posição bem clara: o sucesso de uma mulher incomoda muita gente, o sucesso de várias mulheres incomoda muito mais. Uma brincadeira com o fato do longa mostrar várias versões da boneca, até mesmo as que saíram de linha. Tem Barbie presidente, jornalista, médica e uma enxurrada de outras ― cada uma interpretada por uma atriz diferente.
Resumindo num todo: a história é colorida e divertida, o elenco é ótimo, os tópicos são necessários, certas cenas são de tocar o coração. Barbie é espirituoso e vale a pena, mesmo se você não é fã de rosa.