
Até aparecer como uma piada na série Loki, no ano passado, não fazia ideia da existência de D.B. Cooper. Sem entender a referência, uma rápida busca na web mostrou que um cara sequestrou um avião em 1971, pulou do 727 com a grana do resgate e sumiu. É o único caso de sequestro aéreo sem solução até hoje, nos EUA — ou seja, na galáxia.
Recentemente a Netflix disponibilizou uma minissérie tratando dele: “D.B. Cooper: Desaparecimento no Ar”. São quatro episódios de pouco mais de 40 minutos, cada. Em 2020, a HBO Max já havia lançado um documentário de 1h28 sobre o mesmo tema: “O Mistério de D.B. Cooper”.
Existem tantos detalhes incríveis nesse caso, tantas perguntas sem resposta que seu mistério é terrivelmente contagiante. É impossível não tentar adivinhar e imaginar o que aconteceu, olhar para os suspeitos e escolher um. Mas, cuidado, isso não é um livro de Agatha Christie. Não existe explicação no fim. Mesmo assim, veja e divirta-se.
Embora existam inúmeras teorias e meia dúzia de personagens interessantíssimos que poderiam ser o dito D.B. Cooper, o que mais me chamou a atenção é a reação das pessoas diante do caso, o que daria um belo estudo sociológico sobre o comportamento e a obsessão sobre ele.
Enquanto a produção da HBO dá mais detalhes sobre o ocorrido, a da Netflix dá mais espaço para essa caçada inglória deste “Graal” de casos policiais. Pessoas que dedicaram décadas de suas vidas investigando, se perdem em retratos falados, declarações duvidosas (fulano disse que ciclano disse que era D.B. Cooper, meu pai era D.B. Cooper, meu marido era D.B. Cooper), pistas substanciais, escolhem um suspeito para chamar de culpado e passam a militar para que sua teoria seja aceita como verdade, e assim sendo, se declarando os vencedores de uma corrida que não tem linha de chegada.
Todo mundo tem certeza absoluta que matou a charada. Que sabe quem é, ou foi, o ensaboado bandido/herói. Só que quando as autoridades, ou a mídia, apontam falhas na investigação e não compram a história, criam teorias de conspiração e o troço fica tão complexo e improvável que fica mais delicioso ainda.
É fascinante ver as pessoas selecionando os fatos que corroboram seu achismo e ignorando os detalhes que derrubam seus castelos de cartas. O triste é saber que esse comportamento não é exclusivo do Hemisfério Norte.