
Escolher um filme como meu preferido é algo que não consigo fazer. Mas, “Os Imperdoáveis” com certeza figura entre os que mais me agradam até hoje. Uma verdadeira obra-prima do cinema que possivelmente tenha a cena que mais assisti na vida.
Para mim é um marco de qualidade — não só na carreira de Clint Eastwood, Gene Hackman e Morgan Freeman —, mas um ponto alto da maturidade dos western. É como se o faroeste em si chegasse à sua maturidade, com suas tantas décadas de experiência na bagagem. E olha que esse roteiro rodou uns 20 ou 30 anos pra ser finalmente rodado.
A história em si é básica: dois caras maltratam uma “donzela” e têm a cabeça a prêmio. Então, os pistoleiros aparecem, o xerife tenta manter a ordem e tudo termina em vingança. Bom mesmo é o contexto em que isso acontece. Já é uma fase em que se vivia das lendas dos grandes duelos, das miras certeiras e dos homens cruéis. Uma fase onde a senilidade do caubói é escancarada. Homens de passado movimentado vivem em decadência, valendo-se muito de uma moral distorcida que adquiriram com passar dos anos para obter respeito.
É interessante notar que, enquanto uns se aproveitam da falta de informação da população para aumentar seus feitos, outros — que fizeram muito mais do que o povo sabe — tentam fugir do passado e negar os crimes que cometeram.
Como temos sempre em mente aquele estereótipo de caubói, criado com a ajuda dos antigos comerciais da Marlboro, é engraçado ver os velhos pistoleiros viajando pelos vastos campos e reclamando da refeição improvisada, da falta que a cama faz, falta que a esposa faz, da falta que um teto faz… Para emoldurar esse enredo, temos uma trilha sonora e uma fotografia do mais alto nível. Perfeito.
O ápice é o duelo final, o momento em que o clima fica pra lá de pesado, a hora em que as frases de efeito surgem, anunciando que vai voar chumbo quente. É nessa hora que o personagem de Eastwood profere as palavras que, para mim, são a síntese de todas as outras já cuspidas nos bons filmes de bang-bang.