
Por Marcos Staskoviak – Filmes que tentam nos fazer olhar para a vida e reavaliá-la não faltam. Pensando bem, acho que toda forma de arte tem isso entre seu escopo. Involuntariamente até Lost, pois você percebe que jogou fora horas insubstituíveis da sua vida vendo aquilo, e vai ser mais feliz se não repetir o erro.
São várias as produções que usam personagens com certa idade obrigados a mudar suas rotinas por causa de doenças, tragédias familiares ou crises financeiras (Antes de Partir, Beleza Americana, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, O Pior Vizinho do Mundo, A Felicidade Não se Compra).
Lançado em 2022, e atualmente em cartaz no HBO Max e Amazon Prime Video, Viver retoma esse tema com um toque diferente, um toque oriental já que é uma regravação de um trabalho de 1952 do imortal Akira Kurosawa (Os Sete Samurais e Ran) e roteirizado para se passar na Londres do pós-guerra por Kazuo Ishiguro.
Mr Williams, interpretado com muita competência por Bill Nighy, é um austero funcionário público que comanda um departamento na prefeitura com a mais completa falta de emoção. Na pele do novato Peter nos inteiramos dos meandros desse pedacinho de paraíso da burocracia.
O seio familiar de Mr Williams é tão seco em calor humano quanto um sarcófago, contudo uma novidade vai fazer o velhote parar e pensar na vida, seu relacionamento com o filho, a utilidade de seu trabalho e seus prazeres.
Levando um tempo para concluir sua reavaliação, ele passa por algumas fases experimentando tentativas inúteis de “recuperar o tempo perdido”. Por fim ele me surpreende ao adotar uma postura menos hedonista e mais imprevisível.
A mensagem que ele nos passa está mais ligada ao ikigai, uma filosofia japonesa sobre a “razão de viver” na qual cada um busca sua motivação matinal, fazendo o que gosta numa área onde é bom, possa ser pago por isso, mas que seja algo que o mundo precise. Fazer algo bom para a comunidade é importante para a satisfação pessoal e o resultado é qualidade de vida, não baseada exclusivamente em dinheiro e status social.