
Por Marcos Staskoviak – Algumas vezes ouvi comentários sugerindo que eu conheceria todos, ou quase todos, os filmes. Ou, pelo menos, tivesse visto tudo lançado nas últimas duas décadas. Se soubessem da realidade… Houve sim uma fase em que via uns vinte por semana, mas isso mudou junto com a vida, e a Sétima Arte teve que dar espaço para outras atividades.
Por isso, ser mais criterioso e certeiro na escolha do que será visto é importante, e boas indicações são fundamentais. É o caso de um novo amigo e cinéfilo que me emprestou (sim, ainda existe mídia física) “O Milagre de Anna Sullivan”, acompanhado de uma boa contextualização. Baseado numa história real, ocorrida num rincão sulista dos EUA no final do século 19, o filme mostra as agruras de uma jovem professora, com problemas de visão, tentando ensinar Helen Keller a se comunicar e compreender o mundo à sua volta. Desde o berço, Helen é cega, surda e, por tabela, muda.
Tratada praticamente com um pet de hoje em dia — amado, porém inconveniente em certas horas, fazendo sujeira, barulho e destruindo móveis —, Helen chegou perto de ir parar num asilo. Anna Sullivan é uma cartada desesperada da família, que inesperadamente é confrontada com uma realidade que ainda ignorava: sua condescendência com a menina era mais prejudicial do que qualquer coisa.
Anna precisa usar de uma metodologia inovadora e drástica para domar a selvagem Helen. Com muita paciência e personalidade ela bate de frente com a família (figurativamente) e com a própria garota (literalmente). A cena da troca de bofetadas é memorável. Aposto que foram reais. Também é interessante o personagem de James, irmão de Helen, fazendo as vezes de senso comum, jogando na cara de Anna aquilo que o povo diria nas redes sociais.
A despeito de que poderia ser um dramalhão, a trama se revela muito emotiva, mas também com uma dose de humor, passando sua mensagem de modo motivador e otimista. Uma bela produção de 1962, atualmente escondida na Amazon Prime Video e na Apple TV, se você não quiser comprar o DVD.